A cidade de Palmas, no Tocantins (TO), viveu um momento único em sua história. Nesta sexta-feira (23), um espetáculo de luz, cor e muita alegria tomou conta da Arena Green, que recebe a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.
O evento foi aberto oficialmente as 17h30 às 21h, na Vila dos Jogos, região sul da capital, na presença da presidenta da República, Dilma Rousseff, do ministro do Esporte, George Hilton, delegações indígenas nacionais e internacionais e demais autoridades, o presidente do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC), Marcos Terena, que agradeceu a vida, a chuva e a todos os presentes ao declarar abertos os Jogos Mundiais.
O evento reúne 23 povos nacionais, grupos indígenas de 22 países e 1.700 atletas indígenas de países como Rússia, Etiópia, Afeganistão, Colômbia, USA, sendo 1.100 brasileiros.
O 1º Jogos Mundiais Olímpicos é organizado por Marcos Terena do ITC.
De acordo com a jornalista Laura Yamané (consultora de moda e técnica em estamparia, doutora e pesquisadora da cultura popular e moda), um total de 24 etnias brasileiras e povos de mais 24 países estão em Palmas para participar do evento.
Os povos brasileiros que participam são os seguintes: os Asuriní, Rikbaktsa, Guarani-Kaiowá, Kaingang, Karajá, Bororo Boe, Javaé, Kayapó, Kamayurá, grupo gavião (Paraketejê, Kyikatejê e os Pykopjê), povo Canela, Kura Bakairi, Manoki, Paresi, Tapirapé, Kuikuro, Nambikwara, Matis, Pataxó, Terena, Waiwai, Xerente e os Xavante.
Dentre as modalidades que estarão em disputa são: tiro com arco e flecha, arremesso de lança, cabo de força, corrida de velocidade rústica, canoagem rústica tradicional, corrida de tora, lutas corporais, atletismo, futebol de campo, xicunnahati e natação.
Foi montada uma mega instalação num campus próximo a estação rodoviária.
Cerimônia de abertura
A assessoria de comunicação dos JMPI confirmou que a cerimônia reuniu cinco mil convidados. O secretário extraordinário dos JMPI, Hector Franco, disse que eles fazem parte de diversos segmentos da sociedade e que foram definidos pelo cerimonial da presidência da República.
A população não teve acesso, mas pode acompanhar por meio de telões que disponibilizados na praça do Bosque. A cantora Margareth Menezes, madrinha dos jogos, foi a apresentadora na cerimônia. O ex-jogador de futebol, Cafu, embaixador dos JMPI, também esteve presente.
Laura Yamane disse que os povos indígenas do Brasil tem o ponto forte que são a arte corpórea. De acordo com ela a pintura corporal, serve para ficar esteticamente mais bonito e também para proteção do corpo. Ela tem diferentes significados. Para cada ocasião são feitas as respectivas pinturas. As cores são vermelha e preta. O vermelho é feito da semente de Urucum; tem a função para ser invisível aos inimigos e protege contra os peixes ferozes quando vamos pescar. O preto se extrai do Jenipapo, ambas as plantas da selva, misturado do carvão moído que imuniza certas doenças.
A característica peculiar do estilo gráfico do grupo é que toda superfície dos corpos pintados deve ser coberta com desenho e nenhuma linha pode ficar aberta. O padrão pode ser cortado onde a superfície termina, sugerindo uma continuação para além daquele suporte.
O desenho - realizado com galhos de árvore – precisa adaptar seus ângulos em curvas para acompanhar o corpo. Esta é a parte difícil, para que não se perca a coerência e a regularidade das distâncias entre as linhas.
“Os povos indígenas do exterior preocupam mais na indumentária, no colorido, nas padronagens”, comentou a especialista com exclusividade para o REPÓRTER PARINTINS.
Em Palmas, os Maoris, povo nativo da Nova Zelandia, impressionaram ao fazer uma apresentação do Haka, uma dança tradicional da cultura neozelandesa.
O ritual foi feito em um colégio de tempo integral, onde estão hospedados e registrado por um internauta.
Ao todo, 41 Maoris vão participar do evento, realizado em Palmas de 23 a 31.
O Haka era usado antigamente como "dança de guerra" para preparar os guerreiros física e mentalmente para as batalhas, além de desafiar os oponentes. É também uma demonstração de orgulho, vigor, força, identidade e unidade de uma tribo. Apesar de ser ligado normalmente à guerra, o Haka também era usado em tempos de paz, principalmente para receber visitantes. Hoje, os Maoris usam para se expressarem em diversas ocasiões, como para acolher as pessoas, se despedir dos mortos e celebrar vitórias.
A dança inclui batidas violentas das pernas no chão, tapas dos próprios participantes em seu corpo – principalmente braços, pernas e peito – e fortes expressões faciais, sendo a mais conhecida o movimento da língua para fora da boca. Tudo isso é acompanhado de um cântico dos próprios guerreiros.
Dança no rúgbi
O Haka também é usado pelos All Blacks, seleção neozelandesa de rúgbi. A cada partida, eles fazem o ritual de guerra para intimidar adversários. No caso do time, o Haka mais utilizado em sua história se chama "Ka mate, Ka mate" (“É a morte, é a morte”), composto no século XIX durante um período de conflito entre tribos. Em 2005, um especialista em cultura e costumes Maoris escreveu especialmente para os All Blacks outro Haka, chamado “Kapa O Pango”. Atualmente, os dois são alternados nas apresentações – a decisão sobre qual será utilizado normalmente é feita antes do jogo.
Os All Blacks, como são conhecidos os jogadores do time de rúgbi da Nova Zelândia, fazem o Haka antes de um jogo.
Neudson Corrêa e Laura Yamané