A Desconstrução do Garantido

A Desconstrução do Garantido Notícia do dia 08/01/2019

O historiador Eric Hobsbawm diz que a tradição é uma invenção.

 

Tomando por esse princípio, posso acreditar que o tempo é quem confere robustez a tais invenções.

 

No caso do Garantido, foram necessários no mínimo oitenta anos, para cristalizar essa tradição, e pouco mais de oito meses para desconstruir o que levou décadas para ser erguido. O edifício moral vermelho e branco, por enquanto cores oficiais, desmorana aos olhos de sua torcida e sob o ensurdecedor silêncio dos que ajudaram tijolo a tijolo na construção da obra.

 

Da possibilidade de um novo "Amo" às toadas 2019, em tudo paira um tom azul.

 

Nem nas mais desastradas gestões que assumiram o 'Boi da Baixa', se viu tamanho desmonte. Em tempo algum, ser sócio do contrário era prerrogativa para ocupar postos de primeira grandeza no 'Boi de Lindolfo Monte Verde'.

 

Lindolfo, aliás, corre o risco de ter a cadeira de número 01, a de 'Amo do Boi', na 'academia de cultura popular', que é o Garantido, ocupada, segundo fontes extra-oficiais, por um "sócio/compositor/torcedor" do contrário, futuramente. Afora o indiscutível talento do jovem como compositor, esse espaço é místico. Ele pertence ao único criador reconhecido sem polêmicas do 9folclore parintinese.

 

De fundamental importância, o item 'Amo do Boi' deveria estar protegido no Estatuto da AFBBG para que sua dignidade não fosse maculada. Por estatuto, esse item jamais poderia ser ocupado por quem é reconhecidamente torcedor contrário.

 

Ser 'Amo do Boi' equivale na liturgia do folclore, a ser o "Dono do Boi". Como é possível alguém na estrutura administrativa ousar pensar em nomear um contrário para ser o novo "Dono do Garantido?" Em que pese falhas, Tony Medeiros é um torcedor histórico, cujo talento e a paixão foram postos à prova em inúmeras propostas de ida para o contrário. Tony jamais aceitou. É vermelho! Como vermelhos eram seus antecessores Lindolfo e João Batista.

 

Ao optar por buscar aliados nas hostes azuis, a gestão de Fábio Cardoso e Messias Albuquerque agride o bom senso e descortina uma evidente falta de direção.

 

A escassez de "moral testicular" está na pusilânime falta de atitude em assumir a vergonhosa presença daquele que em 2015, ofendeu a memória de Lindolfo e projetou nossa derrota nos bastidores. O evento a época foi registrado na internet em áudio ad aeternum. O fato, em que pese a gravidade, deve ser de conhecimento do Conselho de Ética do Garantido.

 

Já o conselho, ao que parece, dorme sob forte efeito de calmante, não acorda nem para olhar pela janela do Regimento Interno, a vergonha pela qual passa a AFBBG, em praça pública.

 

A propósito, se aquele que nos solapou em 2015 está atuando no Garantido, quem o está pagando? O suado dinheiro vermelho e branco? Ou ele está trabalhando de graça? Improvável. É preciso um contrato para efeito de prestação de contas ou uma declaração de voluntariedade afinal, é temeroso juridicamente para o boi ter tamanho talento sem proteção das leis... que o diga a Assessoria Jurídica e o Conselho Fiscal!

 

O descompasso grita quando olhamos para o que realmente deveria ser alvo de ativo jogo político. Sem testosterona, ao que parece, Fábio e Messias optam por medidas cosméticas que fariam a alegria das vendedoras da Jequiti.

 

Maquiar os problemas não irá resolvê-los. Muito menos trazer, de novo, os talentosos João Fernandez e Allan Rodrigues, dois grandes quadros, para a recompor, mais uma vez, a Comissão de Arte. O placar não é favorável, entraram no segundo tempo e metade do time já deveria estar na reserva. Mas, ficam bonitos e convenientes na selfie.

 

Jogam contra o Garantido em 2019:


1. O Regulamento do Festival.

 

2. A permanência do presidente da Comissão Organizadora e sua vice, ambos torcedores e sócios do contrário, que o Garantido parece fazer vista grossa já há dois anos.

 

3. A urgente necessidade de renovação do setor artístico, do discurso e da filosofia de trabalho.

 

4. A urgente renovação de itens.

 

5. O "traumatismo craniano" no setor pensante do boi, que hoje produz o discurso mais envelhecido do festival, que é o cansado mantra da "resistência do negro, do branco e do índio".

 

Esses sim, problemas graves e que deveriam ter sido resolvidos já em 2018. Ao invés disso, a diretoria resolveu fazer uma enquete para saber de "nós, o povo", o que deveria "melhorar no Garantido?". Ora façam-me o favor! Até o Manoel Doido, que perambula há decadas, pelas ruas de Parintins, sabe dizer discretamente ao presidente, o que ele, se presidente fosse, faria.

 

De vanguarda do festival, passamos a coadjuvantes da cena! Enquanto um tem seu projeto de arena definido há no mínimo sete meses antes do festival, "nós, o povo" realizamos um seminário para saber o que fazer com a derrota de 2018. Como se seminário, no Garantido, fosse algo levado em consideração na projeção do boi de arena. Nos últimos quatro anos temos visto que não é.

 

Mimetizando o contrário e sangrando a olhos nus, a gestão Fabio Cardoso segue sem quilha, perdida entre igapós e chavascais, distante quilômetros do grande rio de "paixão, ousadia e credibilidade", que prometeu em campanha.

 

Resta rogarmos pela vitória em tom de oração e súplica, porque de joelhos já estamos. E se ela vier, será uma vitória de Fábio Cardoso, e não do Garantido. Esse vem perdendo faz tempo...

 

Mencius Melo é jornalista. Nasceu no Hospital Padre Colombo, é parintinense do povo da Baixa. Não é médico, mas, se pudesse, receitaria chá de "semancol" pra alguns na direção do Garantido.

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