Dia desses ouvi no rádio, a conhecida música do Jorge Benjor, cujo consagrado refrão diz: “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza…”.
Ai pensei: bonito por natureza e útil por natureza… E como é util a natureza brasileira. Afirmo isso depois que li um artigo do André Mello, vice presidente executivo da ABAC – Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem.
Cabotagem é a navegação costeira entre portos do mesmo país. Nele encontrei ecos de parte do que penso como empresário da navegação. Por isso me inspirei para fazer um comparativo literário. As opiniões de André, foram sobre a cabotagem. Eu, vou trazer um olhar sobre a nossa realidade do transporte fluvial. Trago esse olhar porque, incessantemente, acompanho os clamores sobre a BR-319.
Eu mesmo, no artigo passado, defendo a restauração dessa importante estrada para nos integrar e ser ao mesmo tempo, parte de um articulado sistema logístico que só tem a nos beneficiar, mas, afirmo e reafirmo: nosso passado amazônico, nosso presente amazônico e nosso futuro amazônico, passa pelos rios, passa pela navegação. Por que digo isso? Porque nosso mundo é amazônico, e nada vai mudar essa realidade.
Em face disso, vejo o despreparo com que é tratado o tema da navegação no Amazonas e por assim dizer no Brasil. Em dados nacionais, usamos 13% do nosso modal aquaviário, enquanto o rodoviário ocupa 63%, o ferroviário 21%. Como exemplo, a China faz uso de mais de 50% do transporte aquaviário. No campo regional, para ilustrar esse descaso, aponto a precariedade da Manaus Moderna, a falta de sinalização dos nossos rios e a regulação do transporte de passageiros.
Some-se a isso, a falta de segurança nas viagens. Mas, para não mergulhar nesse “rio de problemas”, se me permitem o trocadilho, vou me ater às vantagens de usarmos nossa malha hidrográfica, como parte da solução para a logística no que tange a produção da Zona Franca de Manaus – ZFM, bem como ao que é produzido no interior. Imagine caro leitor, que ao usarmos os rios como estradas, estamos minimizando a emissão de gazes poluentes, ajudando assim a manter o equilibrio ambiental na outra ponta do sistema.
Isso compensa o necessário uso das rodovias, sem inabilitar o tráfego de veiculos, ou seja, o uso dos rios é benéfico para todos e das rodovias também. A navegação é comprovadamente o meio de transporte menos agressivo, utilizado pelo homem. Imagine que a nossa capacidade de transporte triplica com o uso de balsas e navios cargueiros. Somados ao que podemos carregar pelas rodovias, seremos em pouco tempo uma potência logística.
E isso por si só, gera e mantém uma parcela de empregos diretos e indiretos. Imagine ainda que não precisamos asfaltar, recapear ou mesmo realizar as despendiosas e quase sempre pouco úteis “operações tapa-buraco”. Com parte dos tributos gerados pelo modal aquaviário, podemos investir na manutenção e qualidade das rodovias, mantendo assim, um sistema enxuto e eficaz por muito mais tempo.
Acrescente que não há o risco de engarrafamentos em um rio colossal como o Amazonas. Observe que não há volumoso registro de choques por excesso de velocidade. A não ser os provocados pela urgente falta de sinalização. Tenha em mente, que os terminais portuários são, quando construidos de forma correta, robustas e resistentes estruturas, cuja manutenção é de décadas em décadas. Repare que no caso de uma greve de caminhoneiros, a presença de uma política aplicada às hidrovias, pode minimizar o impacto da greve na economia.
Tirando das costas do empresariado, tanto do “rio” quanto do “asfalto”, o fardo político que ações sindicais dessa natureza provocam junto à população. Diante desse quadro positivo, ficamos a nos perguntar: o que falta para que o Amazonas tenha uma política voltada para o uso da navegação, como nosso maior e mais integrado meio de transporte?
Com uma frota de ônibus e carros particulares inchada, a orla de Manaus é a saida para desafogar parte do transporte coletivo urbano, mas, sequer conseguimos sair do campo utópico de uma ideia que em outras cidades fluviais, mundo a fora, é realidade cotidiana. Para clarear o quadro dos modais, a navegação não conta com incentivos como a isenção de determinado imposto para os combustíveis, como acontece em outros setores do transporte, como o transporte coletivo urbano e a aviação.
Também é desamparada no que diz respeito a políticas de créditos financeiros. Para se navegar/transportar, paga-se tudo, e paga-se caro. Não é fácil ser empresário da navegação no Amazonas.
Por fim, atenho-me as vantagens que elenquei acima, para finalmente lhe dizer leitor, que por todas as vantagens ambientais, humanas, econômicas e sociais, o Rio Amazonas, o Madeira, o Negro, o Solimões, o Purus, o Juruá e tantos outros, são as mais belas “BR’s” já construidas em nosso Estado. E o engenheiro que as projetou não falhou. Sabe porque? Por que Deus não falha. Vamos em frente. Segue o Barco.
Dodó Carvalho | Pré-candidato a deputado federal e empresário do ramo da navegação