Foto: Fernando Cardoso
Notícia do dia 02/07/2018
O Boi Caprichoso encerrou a última noite do Festival Folclórico 2018, exaltando as manifestações populares e o convívio com as rápidas mudanças empreendidas pelas tecnologias contemporâneas nos modelos de vida e nos variados setores da sociedade revelam uma nova mística nas tradições.
A cultura do índio e dos caboclos representada pelos atos coreocenográfico acendeu as marcas culturais invisibilizadas da herança étnica afro-indígena e de outras culturas apagadas na história que contribuíram com a construção das identidades parintinenses, dentre essas, a criação do Boi-Bumbá.
A noite foi aberta pela Figura Típica Regional “A Cabocla Artesã” reproduzindo a herança artística presente desde as incisões sagradas das cerâmicas Kunduri e tapajônica, das pirografias Sateré e dos Sfumatos pictóricos trazidos por Miguel de Pascale e o dom da arte das mãos de muitas caboclas que entrelaçam as fibras naturais materializando peças artesanais primorosas retratadas em redes, paneiros utilitários, peneiras, tipitis, abanos, panelas de barro e biojóias.
Na alegoria de Makoy Cardoso, Glemberg Castro e equipe surgiu o Boi Caprichoso, a Sinhazinha da Fazenda e a Porta Estandarte.
A Lenda Amazônica “O Boto Romanceiro”, alegoria do artista Márcio Gonçalves e equipe repaginou o mito que nas noites enluaradas nos beiradões amazônicos os ribeirinhos reúnem-se para divertirem-se nas festas dos barracões”, ocasião que as caboclas são seduzidas pelo boto.
Ser que mostra o seu encanto trajando roupa e chapéu na cabeça ávido para dançar com as belas caboclas e seduzi-las, desavisadas acabam encantada e engravidando, marcada para sempre como a mãe do filho do boto. Nessa alegoria surgiu a Rainha Brenna Dianá que está deixando o item após 10 anos defendendo o boi azul e branco.
A Exaltação Folclórica “Boitatá, Cobra de Fogo”, módulo confeccionado pelo artista Juarez Lima e equipe arrancou aplausos e grandiosidade da plástica reacendendo o folclore brasileiro da serpente de fogo que aparece nas noites escuras, rastejando nos campos e deixando caminho de fogo por onde passa.
O Boitatá assusta as pessoas com olhos incandescentes, fazendo sair fogo do seu corpo e faíscas que iluminam a noite. Em meio a efeitos e iluminação, o módulo alegórico trouxe a Cunhã Poranga do Caprichoso.
Fechando a noitada, o Ritual de Transcedência “Makurap”, alegoria de Jucelino Ribeiro e equipe, destacou a sabedoria ancestral dos velhos pajés Makurap, dos vales do Guaporé e Rio Branco, no estado de Rondônia, que após inalarem o rapé de angico, ensinam que após a morte, a alma deixa o corpo, e inicia uma épica epopeia rumo a maloca “Dowari”, a morada dos mortos.
Segundo a lenda, na aldeia Makurap no plano terreno os parentes em danças e orações na força de um só pensamento, ao sepultarem seus mortos em covas de chamas ardentes, clamam que os espíritos da bravura acompanhem a alma do falecido guerreiro rumo ao Dowari.
Neto Simões representado pelo Pajé Dowari encenou que no mundo sobrenatural a alma do guerreiro morto, encontra a Djapé, o caminho dos mortos, por onde terá que passar por inúmeros perigos, para encontrar o “Botxato, a cobra de fogo”, a ponte que liga o mundo dos vivos ao mundo dos mortos.
A alma do guerreiro morto com sabedoria, valentia e coragem conseguiu cruzar o caminho dos mortos, a alma chegando ao Dowari, sendo consagrado para eternidade pelo espírito do primeiro pajé, como um “ser de luz”.
Fernando Cardoso | Repórter Parintins