*Rívera Brandão
A Amazônia desde sua colonização é cenário do imaginário mundial. E seus povos figuras diversas de tudo que se tinha visto. Reconhecida por sua majestosa paisagem e caudaloso rio de grandes extensões, o espaço verde e denso, inspira nos colonizadores o fascínio, a ambição e o desejo de controle e domínio dessas terras. Em um dado momento da história, decorridos os processos de colonização, surge neste cenário, o “caboclo”.
O caboclo seria a raça mestiça da união entre o branco e o índio. Atualmente, o termo caboclo está associado aos moradores da zona rural, pessoas reconhecidas por suas vidas de ritmo diferente da zona urbana. A cidade sempre na correria do cotidiano, sempre focada nos afazeres e deveres. Não que a responsabilidade também não esteja presente no homem simples da zona rural. No Festival Folclórico de Parintins, riquíssimo por sua beleza de resistência cultural quando apresenta num espetáculo a céu aberto, a amazônica cabocla e indígena, muitas vezes só é vista como um mero evento cultural.
Mas não é assim, o Festival Folclórico de Parintins representa um verdadeiro espaço de mergulho na cultura de nossa terra. Uma terra que sofreu com a invasão que de pouco a pouco foi desfazendo nossa identidade que nasce do índio, mas que com as mudanças da história, se expressa no caboclo como figura que traz em seu sangue, em sua vida a mistura de culturas, a riqueza diversa de quem traz em suas veias essa carga histórica e cultural.
Cabe aqui, todos, independentemente da área urbana ou rural, reconhecer que ser caboclo, não é sinal de diferença, mas de uma identidade que é emoldurada pelas geografias e contornos dos rios. Uma cultura que não pode se deixar levar pelo ritmo acelerado de uma sociedade que não consegue enxergar o valor cultural do outro e quer impor modos de vida, estilos de músicas, maneiras de pensar e administrar que nada pensam em nossa realidade.
Ser caboclo é retratar na vida o peso da história sobre a Amazônia, ser caboclo é ser o povo simples de ritmo guiado pelo curso e estado do rio. Façamos do Festival Folclórico de Parintins, muito mais que um festejo, mas sim, um movimento que trata com tradição a história da nossa Identidade Amazônica que estende seus braços para o branco, para o índio, para o caboclo, para o negro, para o quilombola, para o nordestino. E que este próximo Festival aonde falará de ancestralidade e auto resistência, possa criar em todos as consciências de que isso é uma realidade presente em cada um de nós e não apenas um momento que dura três dias de festa. Portanto, viver a cultura do boi – bumbá o ano todo pode ultrapassar o momento e muito contar de nossas origens, alcançando a identidade amazônica, se estas, forem de fato, valorizadas.
* Assistente Social/Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Graduada em Filosofia/Claretiano.