O servidor da Unidade Técnica da Fundação Nacional do Índio (Funai), Tomás Batista, faz um alerta para o exagerado consumo de bebida alcoólica, drogas, prostituição, violência doméstica, exploração sexual e uso de tatuagens na área indígena Sateré Mawé, uma das mais populosas na região.
Tomás expõe que o problema social nas comunidades indígenas vem perdendo o controle, principalmente quanto o uso de álcool e drogas ilícitas nas aldeias.
O indígena que deixou a sua aldeia ainda jovem para estudar, lamenta que as mazelas sociais atingem cada vez mais as famílias das comunidades indígenas, causando inúmeros problemas.
“Algumas pais não conseguem mais orientar seus filhos para que não sigam rumos que levam a caminhos sem volta”, comentou.
Tomás revela que os indígenas jovens que deixam suas comunidades para estudar na cidade acabam mantendo laços de amizade com a juventude branca, segundo ele, não que não deva, mas quando retornam para a área indígena levam consigo bebidas e drogas, acabando por influenciar os parentes adolescentes a usar os entorpecentes.
“Eles levam desde a cachaça até drogas pesadas, alguns já estão viciados e não conseguem se controlar causando problemas pros seus pais e para a comunidade indígena”, declarou.
O servidor da Funai relatou que recentemente junto com o coordenador do órgão, Sérgio Butel, foram acionados para ir até a comunidade Umirituba, onde as famílias desejavam que um jovem viciado fosse banido da localidade por usar entorpecentes e inalar gasolina, ficar transtornado, além de praticar furtos nas residências.
O Tuxaua Elito Barbosa da Silva, tuxaua da comunidade indígena Ponta Alegre do Rio Andirá, Município de Barreirinha, lamenta que a entrada de brancos na área indígena Sateré Mawé do Rio Andirá é uma ameaça aos costumes dos nativos, pois faz aumentar o uso de bebida alcoólica, entorpecentes, exploração ilegal de madeira, além de gravidez indesejada das índias.
Tomás confirma os fatos explicando que o assédio, aliciamento e o envolvimento de brancos com as índias é um outro problema que vem sendo vivenciado constantemente.
Ele garante que no setor que trabalha na Funai, o de expedição de Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani) é perceptível muitas crianças serem registradas sem o nome do pai pelo fato do genitor ser de origem branca ou ter tido apenas um caso casual com a mãe que adquiriu uma gravidez indesejada.
“Quando a gente pergunta na língua materna quem é o pai, as indígenas dizem que é o branco. Antigamente era muito difícil uma indígena se aproximar do homem branco, hoje a indígena não quer mais casar com o merrim (parente), estufa o peito pra ficar com o branco por que ele é o cara”, lamenta.
Na sua percepção, Tomás avalia que uma mulher indígena não interessa para o homem branco com um grau de instrução mais elevado. “Não adianta que ele não quer a índia que não tem o mesmo grau de instrução. O branco considerado “panema” consegue uma indígena. Quando se junta com ela e vai morar na aldeia acaba causando problemas porque começa a ensinar coisas que a comunidade não tem costume de fazer”, explicou.
Segundo Tomás, o homem branco quando vai viver maritalmente com uma indígena na aldeia, além dela, quer ter envolvimento com outras nativas gerando alguns conflitos, inclusive, familiares.
“Algumas indígenas quando vem morar na cidade passam a ser aliciadas e exploradas sexualmente, quando o branco vai viver na aldeia acaba fazendo o mesmo”, relata.
Indígenas contactados pela reportagem também garantem que é grande os casos de doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens.
Um dos problemas recente vivenciado nas comunidades indígenas e o processo de tatuagem no corpo. Tomás diz que os índios jovens não querem mais pintar o corpo de modo natural, passando utilizar o método de tatuar com máquinas caseiras adquiridas na cidade.
“Não menos prezando a cultura do branco, mas a nossa não provoca agressões no corpo, pois é utilizado tintas feitas de frutos, folhas e materiais orgânicos extraídos da mata que não trazem problema nenhum a saúde”, lamentou.
Tomás e lideranças indígenas avaliam que é preciso que a FUNAI e a SESAI possam discutir com frequência estratégias para o enfrentamento do uso de drogas e outras situações entre os indígenas com uma forte mobilização de participantes e a distribuição de panfletos educativos, sem deixar de lado as atividades dinâmicas.
Fernando Cardoso | Repórter Parintins