* Nilson Lage
A esquerda antipetista – ou antilulista – acusa as “concessões” dos governos trabalhistas ao clientelismo e corrupção tradicionais pela tragédia cujo preâmbulo vivemos agora, supondo que eles poderiam não tê-las feito.
A direita, que escamoteia seus motivos, diz mais ou menos a mesma coisa, com variantes com relação ao juízo que faz publicamente do “clientelismo e corrupção”.
Ambas tendem, para uso retórico, a um ideal indefinido e inacessível.
Estão errados.
O que ocorre hoje é mais radical, de construção deliberada, arteira e antiga.
O Brasil perdeu seu mais elevado e nobre projeto nacional: ser o país em que se unem em convivência pacífica e cordial as três raças formadoras, oferecendo ao mundo alternativa suave para solução dos conflitos.
Importamos a ideologia do ódio e da intolerância.
O Brasil perdeu ainda o norte traçado para seu desenvolvimento nas décadas de 1930, 1950 e 1970: a construção da paz social pela regulamentação das relações de trabalho e do conflito de classes; a industrialização baseada na expansão, promovida e controlada pelo Estado, dos sistemas básicos de energia e infraestrutura; o estabelecimento de relações pragmáticas, amplas, diversificadas e plurais com todos os países; a universalização da educação e do atendimento à saúde, coisas possíveis porque a riqueza do país é enorme, embora isso se esconda.
Não tivéssemos essas perdas, seríamos a mais bem sucedida nação do mundo; elas não são responsabilidade de nenhum governo em particular – salvo, em parte, o de Fernando Henrique Cardoso, agindo deliberadamente nas áreas de comunicações estratégicas, convênios internacionais e inteligência geopolítica.
No geral, é uma derrota do Estado, resultado de omissões de todos na defesa dos interesses da Pátria. - um tanto por ignorância, outro tanto por corrupção, na melhor hipótese pelo fascínio de idealismos mal intencionados.
* NILSON LAGE, jornalista, nascido em 1936, mestre em Comunicação, doutor em Linguística e Filologia. Foi professor adjunto da UFRJ e aposentou-se em 2006 como professor titular do Departamento de Jornalismo da UFSC, após 50 anos de atividade profissional.