Depois de encerrar a noite inicial com o espetáculo “Tecedura”, o Boi Bumbá Caprichoso foi o primeiro a pisar na arena do Bumbódromo para apresentar o segundo ato do tema “A Poética do Imaginário Caboclo”. Exaltando a história de nossa gente e de nossa floresta, o Touro Negro mostrou transfiguração da vida amazônica em realidade, encontro de povos, de fé, recriação da crença, da aldeia e do terreiro.
Estreante no item, o apresentador Edmundo Oran, que já foi amo do boi e é “cria” da escolinha do Caprichoso, conduziu a noite com segurança e domínio, reafirmando seu preparo e dedicação ao festival, incendiando a galera ao fazer sua primeira aparição da noite bem na frente do item 19.
O levantador de toadas David Assayag deu o tom do show azulado, cantando as composições que emocionaram brincantes e torcedores, do início ao fim da apresentação. Ele, que concorre ao item de número 2, defendeu “Amazônia, nas Cores do Brasil”, de Adriano Aguiar, como Toada, Letra e Música (item 11), entoando a mistura cabocla, negra, índia e nordestina, que resultou no povo amazônida.
A Marujada de Guerra impulsionou cada momento da noite com a cadência que já lhe é característica marcante, assim como a galera, que foi um show à parte, mostrando que nem mesmo as horas incansáveis de espera para ver o Caprichoso, são capazes de fazê-la esmorecer e reavivam mais ainda sua garra e vontade de permanecer campeã no item 19.
Espetáculo caboclo
A exaltação folclórica trouxe para a arena do Bumbódromo um mito que ganhou as cores e o brilho da cultura brasileira: “Touro Negro e sua Estrela de Ouro”. A encenação retratou a história de Dom Sebastião, um rei de Portugal que morreu em 1578, aos 24 anos, em uma guerra no império do Marrocos. A grandiosa alegoria foi confeccionada pelo artista Jucelino Ribeiro e equipe. Da coroa de Dom Sebastião, surgiu a rainha do folclore Brena Dianná, que fez uma de suas melhores apresentações no item 8.
A Sinhazinha Valentina Cid exibiu duas indumentárias diferentes na arena, surpreendendo em uma transformação do artista Paulo Rojas, ostentando um vestido cravejado de cristais do castelo de Dom Sebastião.
No item 17, Lenda Amazônica, uma das referências mais populares do folclore do homem do Norte: o curupira. Em alegoria de Algles Ferreira e equipe, o Caprichoso mostrou a figura que amedronta caçadores perdidos no labirinto da morte, acompanhado por uma legião de entes e criaturas da fauna amazônica. Dela, surgiu a cunhã-poranga Marciele Albuquerque, que encantou ao bailar com a toada “Cunhã, criatura de Tupã”.
A toada “Eu te amo Caprichoso” trouxe o dono da festa para sua evolução, guiado pelo tripa Alexandre Azevedo. A Vaqueirada fez sua evolução ao som da toada Brincando de Boi Bumbá, com lanças representando a côrte de Dom Sebastião.
Momento tribal
Coreografadas por Ericky Beltrão, as tribos do Caprichoso arrebataram o Bumbódromo em sua apresentação, com saltos acrobáticos e movimentos inéditos, erguendo o totem sagrado do povo xinguano.
O cotidiano do vaqueiro da várzea foi apresentado como Figura Típica Regional, item 15. Na alegoria de Francinaldo Guerreiro e equipe, o bumbá retratou a forma com a qual pequenos criadores de gado lidam com a época da cheia dos rios, quando a água se eleva em até 12 metros. A alegoria trouxe a porta-estandarte Marcela Marialva, trajando fantasia do artista Makoy Cardoso.
O surpreendente ritual da segunda noite foi “Kupe-Dyep”, denominação dada para os homens-morcego que habitam um mundo subterrâneo também povoado por uma alcateia de lobos-guará, que expulsam caçadores que tentam entrar em suas cavernas. Kennedy Prata e equipe foram os responsáveis pela alegoria, de movimentos impressionantes, que trouxe o pajé Netto Simões, para sua apresentação com a toada Nirvana Xamânico.