O desaparecimento de pessoas no município de Parintins continua intrigando as famílias dos desaparecidos, as quais questionam se na terra do boi bumbá existe uma célula de tráfico humano ou grupo ligado ao extermínio de pessoas.
O sumiço repentino de pelo menos quatro pessoas, entre elas, o de uma criança sem deixar nenhuma pista intriga, gerando preocupação nas autoridades ligadas à área de segurança pública pelo fato dos familiares cobrarem respostas para os casos, principalmente os que ocorreram nos últimos seis anos.
Embora estudos e levantamentos feitos nos últimos três anos pela Secretaria de Estado e Justiça (SEJUS), os quais apontam que o Estado possui rotas de tráfico humano e, entre essas está Parintins, nenhum caso nesse contexto (tráfico humano) foi registrado no município.
Caso Bruna Valadares
Apenas um caso de exploração sexual foi registrado no dia 1º de novembro de 2012 em São Paulo com o homossexual parintinense Bruno do Amaral do Carmo, 32, identificado por Bruna Valadares.
O desejo de aplicar silicone nos seios, nádegas e ficar com o corpo de mulher, levou Bruna viajar para Jundiaí (SP), onde descobriu que estava sendo vítima de uma rede de tráfico humano.
O homossexual contou que foi assediado por outro travesti identificado como Eva Thompson, que conheceu no Festival Folclórico de Parintins de 2011. Na cidade do interior paulista, Bruna foi mantida por seis meses em cárcere privado em uma casa, juntamente com outros travestis e transformada em escrava sexual.
Caso Katlen
Um dos casos de ampla repercussão em Parintins aconteceu no dia 27 de março de 2003 no bairro de Santa Rita, quando a estudante Katlen Pinheiro Ferreira, 8 anos, desapareceu misteriosamente da frente da Escola Presbiteriana, onde estudava.
Pelo fato de Parintins estar inserida como ponto de referência para o tráfico humano, acredita-se que a menor deva ter sido raptada, mas até hoje não houve uma conclusão sobre o sumiço da garota.
Caso Fredson
Nas duas últimas décadas mais quatro pessoas desapareceram misteriosamente sem deixar qualquer pista que pudesse levar até os seus possíveis paradeiros ou raptores.
Entres os desaparecimentos, está do dançarino Fredson de Souza Coelho, 20, que sumiu misteriosamente no caminho de sua casa no dia 23 de abril de 2011.
Mais desaparecidos
Outros desaparecidos são: o senhor Alonso Alcântara, 80 anos, que sumiu no dia 3 de outubro de 2015, o artista plástico Jander Mendes de Azevedo, 39, que desapareceu no dia 6 de julho de 2016 e o jovem José Carlos de Souza Tavares, 24, o Zequinha, desaparecido dia 15 de agosto 2016.
Maria da Glória Mendes Azevedo, 64, mãe de Jander, relatou que por várias vezes procurou o 3º Distrito Integrado de Polícia (3º DIP) para comunicar o fato e buscar respostas para o sumiço do filho, mas somente após idas e vindas conseguiu falar com o delegado, até por que um crânio humano foi encontrado no lago Macurani e junto com a mãe de José Carlos Tavares, a servidora municipal Rivânia Tavares, tiveram que ser submetidas a coleta de sangue para fazer o DNA e saber se o crânio poderia ser de Jander ou do José Carlos.
Inúmeras ações de procura e investigativas foram colocadas em prática para desvendar o mistério que ronda o desaparecimento dessas pessoas, porém foram em vão.
Para os familiares falta mais empenho da polícia em aprofundar as investigações em cima de cada caso. A reportagem procurou o Ministério Público do Estado (MPE) para coletar informações sobre os casos.
O MPE através do seu agente de apoio informou que no órgão não existe ainda nenhum processo referente aos últimos casos de desaparecimento, o que existe é apenas inquéritos policiais em aberto, mas em poder da Polícia Civil.
No 3º Distrito Integrado de Polícia (3º DIP) informaram que o delegado estava viajando. Um dos policiais civis informou que os inquéritos ainda estão em investigação, não sendo possível ainda adiantar nenhum detalhe do que está sendo apurado para não atrapalhar o trabalho.
Embora dois dos casos tenham características de tráfico humano, ainda não podem ser considerados porque não existem provas de que foram raptados ou mortos nem mesmo de assassinatos, pois não tem cadáver e nem ossadas que possam comprovar o crime.
Os familiares de Jander Mendes e José Carlos Tavares lamentam o suposto descaso que a polícia está fazendo para não desvendar os casos. Eles questionam que a papelada com o sangue coletado para o exame de DNA do crânio achado no Lago Macurani foram encontrados jogados no meio da rua no bairro de Palmares.
Rivânia Tavares, mãe de José Carlos questiona e cobra mais empenho para tentar descobrir se os dois elementos que supostamente declararam para terceiros que estiveram com seu filho no dia do seu desaparecimento e pediram que fossem procurar na área do Castanhal, são os supostos autores do sumiço de Zequinha.
A mãe de Jander Mendes também lamenta a falta de apoio para investigar o sumiço do seu filho. “Como anteriormente não conseguimos apoio das autoridades policiais, decidimos investigar por conta própria, mas até agora nada encontramos”, disse emocionada.
As famílias desapontadas em não ter respostas concretas sobre o sumiço dos parintinenses preferem evitar confrontos diretos com a polícia sobre os casos, mas buscam investigar por conta própria cada informação ou pista que possam levá-las até os desaparecidos.
Segundo informações, dois dos casos apontam indícios de possíveis assassinatos com ocultação de cadáver, mas não há informações concretas sobre os supostos rumores.
Mistério nos desaparecimentos
José Carlos conhecido como Zequinha foi visto pela última vez no dia 14 de agosto de 2016 em um bar localizado na Rua 10 do bairro Paulo Corrêa. De acordo com Rivânia Tavares, 46, mãe de Zequinha, o filho esteve na tarde do dia 15 em sua residência localizada na Rua Tomaszinho Meirelles, no bairro Itaúna I, de onde pegou uma bicicleta e não retornou mais.
O artista plástico Jander Mendes de Azevedo, 39, desapareceu no dia 6 de julho de 2016. Segundo familiares, ele saiu de sua residência na Rua Paraíba, bairro Emílio Moreira, por volta de 14h20min, e não retornou mais.
O caso Katlen, de 2003, fez 14 anos e até hoje não teve respostas. Segundo informações da coleguinha da estudante, na época, a menor foi vista pela última vez sendo conduzida por um tricicleiro após deixar a Escola Presbiteriana, onde estudava no bairro Santa Rita.
Levantamentos apontam que Parintins está inserida na rota do tráfico humano, mas os desparecimentos desses parintinenses ainda não se confirmam nesse contexto.
Outros casos
No dia 26 de novembro de 2011, o comandante de barcos, Cleber Trindade Lopes, 35, deixou seus familiares intrigados com o seu desaparecimento, após fazer uma viagem de Parintins até a capital conduzindo um rebocador.
Familiares relatam que após Cleber atracar a embarcação num porto nas imediações da Feira da Panair, no bairro Educandos, Zona Sul de Manaus, e entregá-lo aos responsáveis, ele e a tripulação foram dormir, então teria desaparecido. Há relatos que o marítimo teria sofrido um surto psicótico, chegando a se jogar dentro do rio por duas vezes.
No dia 15 de fevereiro de 2013, uma adolescente de 14 anos supostamente fôra sequestrada na agrovila do Caburi e levada para Manaus. Ela contou que foi autorizada pelos pais a ir para a agrovila do Caburi, onde encontrou uma mulher identificada apenas por Adriana, a qual a convidou para buscar dinheiro na casa dela, diz que foi dopada, não lembrou mais de nada e acordou no interior de um quarto no bairro Mauazinho em Manaus.
Na Calha do Baixo Amazonas, o município de Oriximiná, na região Oeste do Pará, tem se transformado na mais recente rota para o tráfico de pessoas. A fragilidade de fiscalização na fronteira com o Suriname facilitou a inclusão do município no mapa do tráfico de pessoas voltado para a exploração sexual e o trabalho escravo.
O tráfico de pessoas movimenta mais de 30 bilhões de dólares no mundo inteiro. O Brasil está entre os dez países que encabeçam a lista do tráfico de pessoas. O País contabilizou aproximadamente 1.550 vítimas nos últimos seis anos, sendo que 70% dos casos são de exploração sexual.
Sobre os desaparecimentos de pessoas há peculiaridades diferentes. Em relação aos homens, o aliciamento para o trabalho escravo. Entre as mulheres, o sexo é a principal causa. Já entre as crianças, há o trabalho escravo e a prostituição.
O continuar da peregrinação interminável feita pelas famílias dos desaparecidos, além dos elementos apontados, trazem à tona outros fatos semelhantes adormecidos nos arquivos das investigações, por conta da complexidade da questão e ao mesmo tempo das limitações e fragilidades dos órgãos que cuidam de casos dessa natureza, a tendência é caírem no esquecimento e virarem arquivo morto, deixando os familiares sem respostas.
Fernando Cardoso | Repórter Parintins