O jornal Repórter Parintins, com o objetivo de orientar sobre os cuidados com a higiene bucal, apresenta uma entrevista com a odontóloga Tatyanne Araújo. A médica parintinense tira todas as dúvidas sobre o tratamento da cárie, as suas consequências, o tratamento, e se é preciso ou não fazer restauração, além de dar outras dicas importantes para a sua saúde dentária.
Repórter Parintins – Nenhum dos dentes dói: isso significa que não tem cárie, certo?
Tatyane Araújo – Infelizmente não há uma relação clara entre cárie e dor. Existem cáries que não doem absolutamente nada. Em compensação, existem pequenos danos causados aos dentes que podem causar extrema sensibilidade e desconforto. Muita pressão na escovação pode causar desgaste do esmalte e causar sensibilidade, por exemplo.
Dores menores ou sensibilidade podem ser tratadas sem o uso de motor. Seu dentista pode indicar o melhor tratamento. Mas se você não der a devida importância ao seu check-up dental regular, o risco de cáries aumenta e coloca seus dentes em risco.
Se uma dor menor for neglicenciada por um longo período de tempo, pode de uma hora para outra piorar e causar dor intensa, inchaço e até mesmo febre. Para evitar isso, recomendamos um check-up a cada 6 meses. Sempre visite seu dentista caso suspeite de que algo está errado com seus dentes.
RP – Como acontece o processo da cárie?
TA – Uma cárie nunca aparece de repente, do nada. Sempre se inicia na superfície danificada do esmalte e gradualmente se aprofunda. O dano é causado por certo tipo de bactéria que usa açúcar ou carboidratos dos alimentos para produzir ácidos que gradualmente danificam o esmalte. Normalmente leva bastante tempo para que a superfície danificada se transforme em cárie. Há tempo de prevenir a cárie se o dano for detectado prematuramente.
Muitos pacientes são surpreendidos quando em alguma radiografia encontramos alguma cárie profunda a qual nem suspeitavam que tinham, por não sentir nenhuma dor ou desconforto.
Caso a superfície danificada se aprofunde, é formada uma cavidade. Nesse ponto temos que remover o tecido danificado, eliminar as bactérias e restaurar o dente antes que a polpa seja atingida. Se as bactérias se aproximam muito da polpa dental, irá desencadear uma resposta imune onde o corpo tenta combater a invasão das bactérias. É quando os sintomas começam, como sensibilidade ao calor, frio ou doces e bebidas ou sensibilidade ao mastigar.
Nem sempre é fácil encontrar uma cárie. Dependendo da localização dela, como no caso de cáries entre os dentes, só conseguimos detectá-la através de uma radiografia.
RP – O que acontece dentro do dente cariado?
TA – A cárie vai lentamente (normalmente) destruindo os tecidos dentais. Após atingir a camada logo abaixo do esmalte, que é a dentina, pode iniciar o processo de sensibilidade a doces e água fria. Se não tratada, a cárie vai seguindo em direção ao centro do dente, onde se localiza a polpa (nervo). Se atingida pelas bactérias, ocorre uma reação inflamatória bastante severa que irá causar uma dor bastante aguda. Em alguns casos, porém, essa fase de dor pode não ocorrer e o nervo morrer iniciando a produção de pus. A partir do momento que a cárie atingiu a polpa, não há mais como evitar um tratamento de canal.
RP – É possível uma cárie se curar sozinha?
TA – Uma cárie é uma infecção que não pode se curar sozinha. Só há uma maneira de resolver o problema, indo ao dentista. Se o paciente demorar para procurar tratamento a chance de complicações como dor e necessidade de um tratamento de canal aumenta. Além de uma destruição maior da estrutura dental.
RP – Como é feito o tratamento da cárie?
TA – O princípio do tratamento é a remoção do tecido cariado e das bactérias. Para isso usamos curetas e brocas. Quando houver risco de dor, como em cáries mais profundas, usamos anestesia. Hoje, já é possível minimizar a dor e desconforto da anestesia com novas tecnologias, como o Morpheus que garante uma anestesia praticamente indolor e sem boca e línguas dormentes.
Quando a cavidade estiver completamente limpa, sem tecido cariado, sem bactérias, iniciamos a etapa da restauração, onde usamos normalmente, resinas para reconstruir a parte destruída pela cárie. Após a finalização é dado um polimento e fica difícil diferenciar restauração de dente.
RP – O tratamento pode ser completado em uma única sessão? Quantas horas leva o tratamento? E se eu tiver mais de uma cárie?
TA – Uma restauração convencional leva cerca de 40 a 50 minutos. Restaurações menores podem levar menos tempo e maiores, mais tempo.
Normalmente é tratado alguns dentes por consulta, independente de quantas cáries esse dente tiver. Isso é devido ao fato que o paciente pode não aguentar ficar com a boca aberta por muito tempo.
Em casos de necessidade de coroas, mais sessões serão necessárias. Na primeira, é removido todo o tecido cariado e feito o preparo e um provisório. Na segunda sessão pode ser feita uma moldagem e numa terceira sessão a colocação da coroa.
RP – Irei precisar de restauração?
TA – Pequenas fraturas no esmalte nem sempre necessitam de restauração. Apenas um polimento e recontorno podem ser suficientes. Fraturas maiores ou cáries podem necessitar de restaurações ou mesmo coroas.
RP – A restauração é tão resistente quanto o dente natural?
TA – Pequenas e médias restaurações são fortes o suficiente. As resinas modernas aguentam muito bem as cargas mastigatórias. Danos maiores podem necessitar de uma coroa para garantir uma resistência adequada.
RP – Quanto tempo deve durar uma restauração?
TA – Isso irá depender de diversos fatores como higiene do paciente, tipo de dieta, se o paciente tem bruximo, etc., mas em média, uma restauração em resina pode durar de 5 a 10 anos, podendo até durar mais tempo. Coroas e facetas tem uma vida útil média de 10 anos ou mais. Porém, vemos coroas em ótimo estado mesmo depois de 20 a 30 anos e restaurações ótimas mesmo após 8 anos.
Pequenas coisas que podem aumentar a vida útil de restaurações e próteses:
Você deve manter uma boa higiene bucal. Escove seus dentes ao menos 3x ao dia, por 2 minutos. Use o fio dental regularmente.
Visite seu dentista a cada 6 meses para um check-up e limpeza profissional.
Pessoas que apertam muito ou rangem os dentes podem precisar do uso de placas para dormir para proteger os dentes, restaurações, coroas e facetas.
Evite hábitos ruins como roer unhas, morder caramelos duros, cubos de gelo, grãos ou alimentos muito duros que podem colocar em risco restaurações e coroas.
Uma dieta rica em açúcares ou carboidratos aumenta o risco de cáries. Em combinação com má higiene bucal pode ser desastroso. Se as bactérias invadirem a área ao redor de uma restauração ou coroa há risco de infiltração e esse trabalho poderá precisar ser substituído.
RP – Devo esperar por sensibilidade ou dor após o tratamento?
TA – Em alguns casos pode ocorrer uma pequena sensibilidade por alguns dias, que vai desaparecendo gradativamente. Se a cavidade for profunda, essa sensibilidade pode ser maior que o usual.
Porém na maioria dos casos praticamente nenhuma sensibilidade ou dor é sentida após o tratamento.