Abate de gado com lança de ferro praticado em Parintins

Matadouro arrecada mais de R$ 215 mil por mês e não há investimento na estrutura, nem mesmo a disponibilidade de R$ 16 mil para a compra de pistola pneumática

Abate de gado com lança de ferro praticado em Parintins Foto: Marcondes Maciel Notícia do dia 16/08/2016

A demora na licitação para a compra de uma pistola pneumática utilizada no abate de gado no matadouro frigorífico municipal foi a explicação do secretário municipal de Produção, Abastecimento e Desenvolvimento Econômico Sustentável (Sempad), Nilzomar Barbosa, para justificar o motivo dos animas serem mortos pela perfuração de uma lança de ferro. O modo cruel de abate de gado, que consiste em aplicar um golpe na testa do animal com uma haste de ferro tendo uma das extremidades pontiaguda, foi denunciado por um grupo de pessoas que trabalha no matadouro frigorífico municipal Osório Melo, localizado no bairro Santa Clara.

 

De acordo com os relatos, há cerca de cinco meses essa prática é comum no abatedouro público de Parintins e até o momento, desde que a pistola sensibilizadora ficou danificada não se providenciou outra para o abate de gado. Uma pistola pneumática custa pouco mais de R$ 16 mil, segundo o secretário Nilzomar. Porém, a Prefeitura de Parintins não se preocupou em comprar uma nova pistola, uma vez que arrecada por mês em tono de R$ 86 mil de taxa de vale abate e cerca de R$ 129 mil com a venda de couro, perfazendo mais de R$ 215 mil todos os meses.

 

De acordo com os açougueiros, é cobrada R$ 80,00 por cada rês abatida, sendo que passam pelo matadouro municipal cerca de 1.080 reses por mês. “São três abates por semana, sendo segunda, quarta e sexta-feira. Em cada dia são mortas 90 cabeças de gado. Só com o vale abate, cobrado ao preço de oitenta reais, no mês são pagos de impostos oitenta e seis mil e quatrocentos reais. Não dá pra tirar dezesseis mil pra comprar uma pistola?”, denunciou.

 

O denunciante disse que a perda do açougueiro não fica somente no vale abate. Ele explicou que o dono do gado só tem direito a ficar com a carne e que os miúdos como bucho, sebo, couro e outras sobras ficam na administração do matadouro. “Só pra se ter uma ideia, o couro de cada rês que fica no matadouro, custa cento e vinte reais. Se somar 1.080 reses, só em couro são mais de cento e vinte e nove mil reais que entram todos os meses nos cofre da prefeitura”, esclareceu.

 

De acordo com o secretário Nilzomar Barbosa, os setores destinados ao serviço de matança dos bois que estavam apresentando problemas já estão em pleno funcionamento, porém, por falta de licitação para compra de uma pistola pneumática o abate no matadouro continua sendo feito pelo processo de lança. “A única coisa que ainda não está funcionando chama-se a pistola porque nós não encontramos, só tem em São Paulo. Mas está sendo feito a licitação porque ela é mais de R$ 16 mil. É caríssima. Mas, do jeito que está sendo abatido está sendo acompanhado pelo veterinário”, assegurou.

 

Com relação à reclamação de magarefes e talhadores de carne sobre a falta de higiene e equipamentos deteriorados no matadouro frigorífico Ozório Melo, o secretário disse que não compete a ele cuidar do setor técnico do matadouro e sim aos veterinários responsáveis. O problema se arrasta pelos menos nos últimos três anos. “Eu sou só administrador geral. A hora que eu quero fazer uma coisa diferente eu sou, vamos dizer assim, freado pelas leis veterinárias. Se tiver alguma coisa irregular o veterinário pode até fechar o matadouro”, explicou.

 

Nilzomar afirmou que os açougueiros não têm o conhecimento técnico sobre o processo de abate de gado e sobre as questões sanitárias do ambiente interno do matadouro para apontar alguma irregularidade. “O talhador não sabe nada disso. Ele tem que simplesmente receber o boi do produtor, pagar e não se preocupar, porque o matadouro de Parintins é o único do interior do Estado do Amazonas que tem o Serviço de Inspeção Municipal”, frisou.

 

Ele informou ainda que o matadouro Ozório Melo foi estruturado para ser habilitado na categoria de Serviço de Inspeção Estadual. “O Ministério da Agricultura já tem um projeto para que o gado de Barreirinha e Nhamundá venham morrer em Parintins, porque nesses munícipios não tem o veterinário para fazer a inspeção”, disse o secretário.

 

Barbosa ressaltou que todas as medidas de higiene e normas técnicas são obedecidas nos serviços executados no abate de gado em Parintins. Entretanto, os denunciantes apresentaram fotos do estado de abandono do matadouro frigorífico “A última fiscalização que tivemos foi do IPAAM. Fomos até elogiados porque estamos dando destino na matéria orgânica originária do rumem do boi, que antes era jogada no rio e agora é utilizada em compostagem orgânica”, pontuou.

 

Marcondes Maciel | Repórter Parintins

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