Pascoal Alaggio e Lady Laura voltam a ser ocupados

Pascoal Alaggio e Lady Laura voltam a ser ocupados Fotos: Jean Beltrão Notícia do dia 07/06/2016

Sob sol forte e temperatura em torno de 37 graus, cerca de 450 famílias, a maioria formada por parintinenses, limparam durante toda esta segunda-feira (6) um terreno onde desejam construir suas casas na Ilha Tupinambarana. A área ocupada localiza-se nas mediações dos loteamentos Pascal Alaggio e Lady Laura, e grande parte das terras pertence a Manoel Esteves do Rosário. Os membros da ocupação alegam já ter conversado com os proprietários das terras, fato que foi desmentido por Pedro Esteves, filho de Manoel do Rosário, que disse já ter sido feito um pedido de reintegração de posse pela família.

 

A ocupação teve início na manhã da ultima sexta-feira (3) e contava com a participação de aproximadamente 100 famílias. Na manhã de segunda-feira, 6, esse número já havia aumentado para 450 famílias – cerca de 1000 pessoas -, segundo uma lista feita pelos membros da ocupação.

 

Em média, os lotes de terra divididos entre as famílias da ocupação medem 10x30. Nesses terrenos, homens, mulheres, crianças e idosos se ajudam para levantar barracos que já tomam conta da paisagem do assentamento.

 

“A gente tá aqui para reivindicar nosso direito de ter uma moradia digna. A maior parte das pessoas que estão aqui não tem um lar. Vivem de aluguel e subsistem em nossa cidade. Infelizmente, não temos renda para comprar uma casa nos outros bairros cidade. Agora, finalmente, enxergamos a esperança de conseguir ter um pedaço de chão, e nós faremos o possível para construir nosso lar aqui”, enfatizou Wenderson Melo, pai de uma das centenas de famílias presentes no assentamento.

 

Segundo as pessoas que participam da ocupação, no fim de semana, houve uma reunião com um dos proprietários das terras, identificado por eles como Pedrão - Pedro Esteves, filho do latifundiário Manoel Esteves do Rosário. Nessa conversa, Pedro fez esclarecimentos sobre a propriedade e afirmou existir a possibilidade de negociação das terras do loteamento Pascal Alaggio.

 

O Repórter Parintins procurou o empresário Pedro Esteves. Ele não quis gravar entrevista, disse que não responde pelas terras, mas negou que tenha conversado com os membros da ocupação e afirmou que há um processo em andamento que pede a reintegração das terras ocupadas.

 

A polícia afirma conhecer a situação da ocupação e espera um mandado oficial da Justiça para reintegrar as terras à família Esteves do Rosário. O coronel Valadares Junior, comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar de Parintins, acredita que as pessoas que estão ocupando as terras no Pascal Alaggio e Lady Laura podem ser as mesmas que ocuparam a área de proteção ambiental do bairro da União.

 

“Um dos proprietários do terreno nos procurou e nos repassou o que está acontecendo na propriedade. Por enquanto, ainda estamos empenhados para reintegrar a área do bairro da União. Até o meio da semana devemos concluir os trabalhos por lá. Nesse período deve chegar o mandado da Justiça em relação à reintegração das terras do Pascal Alaggio e nós teremos que cumpri-lo. É claro que conversaremos com os invasores e contamos com a compreensão deles”, explicou.

 

Na ocupação do bairro da União, a Polícia atua desde sexta-feira para cumprir o mandado de reintegração de posse de terras do poder público municipal. Segundo o Departamento de Inteligência da PM, ainda há algumas pessoas que insistem em descumprir o mandado judicial. “Se houver resistência dos invasores nessas reintegrações de posses, o Comando Especial de Manaus será acionado para fazer o trabalho de retirada dos invasores”.

 

Posicionamento da prefeitura

O Repórter tentou opuvir o posicionamento da Prefeitura de Parintins, por meio da Secretaria de Planejamento, em relação à ocupação das terras. No entanto, não conseguimos entrar em contato com a chefe de Gabinete, Eliane Melo.

 

Em agosto de 2013, o site da Prefeitura divulgou uma matéria onde Alexandre da Carbrás (PSD), afirmava não apoiar a invasão das Terras no Pascal Alaggio pelo fato dele saber que se tratava de uma estratégia de pessoas querendo prejudicar a sua administração.

 

Minha casa minha vida

No local da ocupação ainda há 50 casas abandonadas desde 2011 do projeto “Minha Casa Minha Vida”, programa do Governo Federal em parceria com a Prefeitura de Parintins. Pelo convênio firmado entre a Caixa Econômica Federal – CEF e o Poder Executivo Municipal, seriam construídas 262 moradias, no valor de 5,2 milhões de reais. Até hoje nenhuma casa construída na área do Pascoal Alaggio foi entregue ao seu dono e desde quinta-feira elas abrigam os sem-terra de Parintins.

 

Do projeto habitacional apenas alguns residências do sistema de substituição foram entregues em diversos bairros de Parintins.

 

Enquanto nenhuma decisão é tomada, as pessoas do assentamento no Pascal Alaggio e Lady Laura continuam a erguer barracos como um sinal de que pretendem ficar no local. “Eu só quero um lugar para viver e ver meus filhos crescerem. Tem gente que tem terra até onde os olhos podem alcançar. Outras pessoas, por outro lado, não tiveram a sorte de nascer com um único pedaço de chão e a única coisa que tem é esperança. Não tirem essa esperança de nós”, diz a cinquentenária Maria Almeida, mãe de três filhos.

 

Por Jean Beltrão | Repórter Parintins

 

 

 

 

Tags: