“Naquele tempo de menino...”

“Naquele tempo de menino...” Foto: Arquivo pessoal Notícia do dia 27/11/2015

Carlos Garcia *

 

Ainda tenho no meu peito muita saudade...roda pião, estilingue(baladeira) no pescoço e papagaio pra saltar... É impossível não ter saudade dessa época. Como sabiamente o grande poeta Chico da Silva retratou musicalmente: “Que tempo bom que não volta nunca mais...” Essa nossa Parintins era de sonhos sim, mas de sonhos possíveis, realizáveis e muitos prazerosos.

 

Sonhos reais de uma infância inesquecível que vivi e muitos outros curumins e cunhantãs viveram também. Uma alegria que parecia infinita, pois éramos incansáveis e felizes de verdade. Sinceramente, se pudesse voltar no tempo, voltaria pra essa, que foi a melhor fase de nossas vidas.

 

Esse é um artigo que escrevo com a inocência e a pureza de um menino, e com conteúdo suficiente pra escrever um livro. Vivi grande parte de minha infância na casa do prédio antigo dos Correios, na Rua Ruy Barbosa, onde meus saudosos pais moravam. Eu e meus irmãos iniciamos nossa vida escolar no renomado Grupo Escolar Araújo Filho.

 

Como morávamos na “ilharga” da escola, já no caminho dava pra dar uma paradinha na histórica mangueira em frente à Mesa de Rendas, isso mesmo, era esse o nome dessa instituição pública que hoje é a Sefaz.

 

O sabor incomparável daquela manga juntava-se a merenda do dia no grupo, o saborosíssimo mingau de fubá, preparado carinhosamente pela Dona Isidora e servido naquele famoso copo de plástico, lembram?

 

Pois é, como estudávamos no turno da manhã, no horário vesperal (à tarde), depois de fazer a lição de casa, era hora do divertido banho de rio no trapiche, do prazeroso jogo de bolinha de gude (a colombiana era a mais cobiçada), e claro, do indispensável futebol no campinho improvisado no quintal ou numa área do cais do porto ou também no campo da antiga Camtel.

 

O curioso e engraçado é que, para evitar a quase inevitável surra do papai ou da mamãe, nós colocávamos nossos calções para secar após o banho de rio. Era uma tioria (como diria os antigos), que fazíamos pra amenizar o ralho ou a mais provável surra. E o grande risco: enquanto o short ou o calção secava, nós brincávamos de manja com os mandiís, carataís e o mais temido de todos, o famoso candiru.

 

Graças a Deus, todos se salvaram... (Rrss). Depois que nos mudamos pra residência da avenida Amazonas, as brincadeiras de curumim só aumentaram. Eu aprendi a andar de bicicleta no terreno aonde é hoje a Escola Estadual Ryota Oyama. Era um lugar de altos e baixos, muito acidentado e claro, levei vários tombos antes de aprender.

 

Naquele tempo quando sofríamos algum tipo de corte ou ferida, curávamos imediatamente com terra ou areia. Era o curativo e antitetânico mais eficiente que tínhamos. Outro grande prazer dessa época inesquecível era as sessões de cinema do antigo Cine Oriental (sem falar do Cine Saul, cuja sua destruição, foi o maior crime contra a história cultural de nossa Parintins).

 

Voltando ao Cine Oriental, que era propriedade da família Kimura, e que ao lado estava localizado o famoso Brasa Bar, do Seo Edmilson Seixas (in memorian). Assistimos muitos clássicos do cinema mundial, como: os emocionantes “Dio como ti amo”e “Coração de Luto” ; os grandes filmes de bangbang: “ Um dólar furado” ; “Vou, mato e volto” e muitos outros.

 

Esses com os consagrados atores: Giuliano Gema e Franco Nero. De aventura, tínhamos os imperdíveis filmes do Tarzan. E os trallers (Fox jornal) que passavam antes de começar o filme?

 

O canal 100 era o mais esperado, pois passava em preto e branco, os belos gols do velho Maracanã, com a alegria incomparável da torcida na extinta geral do maraca. Era muito legal. Tudo isso acontecendo na matinê ou na grande vesperal, e acompanhado de um delicioso picolé de mini-saia do Brasa Bar.

 

O meu preferido era de farinha láctea com Nescau. Simplesmente imbatível. E lógico, de vez quando, nós, curumins ‘inxiridos’, conseguíamos alguma cunhantã pra nos fazer companhia. E às vezes até rolava aquele famoso beijo gelado e forçado também. “Que tempo bom, que não volta nunca mais...”

 

*O autor é Funcionário Público Concursado, com Graduação Superior em Administração de Empresas e Pós-Graduação em Gestão Pública.

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