Cidadania e Democracia: o cotidiano da democracia

Cidadania e Democracia: o cotidiano da democracia Foto: Arquivo pessoal Notícia do dia 02/08/2015

O sistema democrático de governo proporciona aos povos que o adotam o direito a escolha de seus representantes, seja para cargos no executivo ou no legislativo. Os mesmos são escolhidos entre os cidadãos a partir de um processo eleitoral que indica quem deverá exercer cargos de gestão e legislação, ou seja, quem governará a partir de leis elaboradas por legisladores. No fundo o processo eleitoral compara-se ao processo de recrutamento e seleção para o preenchimento de vagas em uma empresa privada ou mesmo em órgãos públicos.

 

A comparação refere-se apenas ao processo de escolha e não a forma que um e outro são desenvolvidos. Pois enquanto para cargos em empresas privadas ou órgãos públicos, no recrutamento e seleção são exigidos conhecimentos técnicos adquiridos ao longo de anos de formação em escolas especializadas; para o exercício de cargos eletivos da administração pública e legislatura o princípio basilar é de que qualquer cidadão desde que esteja gozando de direitos políticos poderá se candidatar e, se eleito assumir.

 

No exercício da profissão o direito ao erro pode até mesmo ser admitido. Em alguns casos não, eis algo para reflexão. Se o médico exerce um procedimento equivocado pessoas podem morrer ou sofrer consequências graves; se um professor conduz mal seus alunos as gerações atuais ou futuras também sofrerão; se um executivo de uma grande fábrica erra, pais e mães são demitidos gerando problemas sociais. Enfim, as profissões por serem exercidas por seres humanos são passíveis de erros.

 

O princípio democrático é espetacular, pois permite o acesso ao poder político qualquer cidadão, é a democracia tornando iguais os desiguais; a virtude do modelo, porém, a partir daí começa a apresentar vícios que tornam o exercício da coisa pública muitas das vezes um desastre e porque não dizer uma tragédia.

 

A ascensão ao poder político possui o condão de transformar homens e mulheres em verdadeiros deuses. Eles não admitem de forma alguma que como seus concidadãos possam ser capazes de falhas e que precisam da companhia e do conhecimento de outros para conduzir a missão de administrar a coisa pública e que por ser pública irá interferir na existência de milhares, milhões de pessoas. Um agravante no exercício do poder político é que para que o mesmo aconteça formam-se alianças, ainda que de facções inimigas, contudo o importante é que não se perca o controle econômico e político da situação e esse poder seja exercido ao longo dos anos e até mesmo por décadas. Isto, entre povos que se dizem democráticos.

 

Hoje, no serviço público como nas organizações públicas e privadas as competências técnicas se fazem tão necessárias como as habilidades comportamentais. Um empregado, um colaborador que não se sinta comprometido com sua organização, que não invista nela todo seu talento e dedicação simplesmente está fora do jogo. O mesmo, infelizmente não podemos falar dos representantes do povo em nossa realidade. Para essas pessoas o destino de crianças, jovens e velhos é o que menos importa desde que se atinja um projeto de poder não de governo. A fome, a dor, a miséria não podem jamais fazer parte das discussões políticas nos altos gabinetes, isso é perda de tempo. O povo se acostuma, ou melhor, sabe dar seu jeito para tais coisinhas.

 

Em nossa realidade brasileira, basta darmos uma olhada na situação da população no que diz respeito a educação, saúde, transporte público, segurança pública, infraestrutura; os princípios básicos da administração são simplesmente ignorados pelos gestores públicos. Planejamento, direção, organização, controle, isso é conversa pra empresa privada ou, como dizem os iluminados pra acadêmico pobre. No discurso, porém expressões como planejamento estratégico, desenvolvimento sustentável, qualidade de vida estão sempre presentes, são palavras bonitas, impactantes. É perda de tempo, contudo, perguntar aos nossos ilustres representantes políticos se conhecem o significado das mesmas.

 

Assim como nas organizações empresariais pode se contratar um profissional com um excelente currículo, também na vida pública pode se eleger um cidadão com uma excelente capacitação técnica. A grande incógnita, porém, está no comportamento das pessoas. Hoje, nas gerências de recursos humanos comenta-se muito que se contrata por competência técnica e demite-se por defeitos comportamentais. Da mesma forma que existe muito funcionário sem compromisso, com graves defeitos morais, também na vida pública encontramos governantes e legisladores que agem apenas em benefício próprio ignorando que todo recurso público antes de tudo pertence a sociedade e, que nessa sociedade convivem pobres e ricos, pessoas que muitas das vezes possuem o mínimo para sobreviver, que para as mesmas pagar impostos é um sacrifício desumano.

 

A verdade é que tanto na empresa privada como no exercício da vida pública, o risco de se contratar ou eleger pessoas desprovidas de caráter, responsabilidade, lealdade, comprometimento e humanidade é muito grande, nós somos peritos em dissimular nossas fraquezas . Poucos lugares no Brasil podem orgulhar-se de seus governantes e legisladores, esses são raros, mas existem e fazem a diferença. Infelizmente, a quase totalidade dos brasileiros vive sob o comando de aventureiros que se utilizam do patrimônio público como se fosse seu e o resto que se dane. Resta-nos, contudo, a certeza de saber que o sistema democrático a permite a alternância de poder. Que nós saibamos usar deste direito, pois, persistir no erro é sofrer sem necessidade e tomar café requentado pior ainda.

 

Professor Alberto Ferreira (Professor do Curso de Administração do ICSEZ/UFAM)

Tags: