O quintal da minha vida

O quintal da minha vida Notícia do dia 12/03/2015

Por Mencius Melo

Ontem, a Rosélia Bulcão partiu. Batuqueira apaixonada, sócia e torcedora do Garantido ao extremo, Rosélia era a minha “tia postiça” assim como sua irmã minha tia Maria, nomes que desde pequeno aprendi a respeitar porque me trataram com amor de mãe. As melhores lembranças da minha infância triste foram as saídas do Garantido pelas ruas da cidade e os dias no quintal da Rosélia. Naquele mundo mágico de infinitos metros quadrados, fui feliz, muito feliz!

 

Nossa turma de curumins e cunhantãs era formada basicamente pelo Rogério, Naldo, Bebê, Mazinha, Julimar e a Julielza. Todos filhos e filhas dela. Tinha o Clodoaldo que foi para Belém e nunca mais vi o Saulo, o Mimo e às vezes o Mito, esses eram primos. Ali corríamos, pulávamos, brincávamos de manja e ríamos muito! O quintal era nosso parque de diversões. Às vezes faltava a merenda da tarde em casa, mas, na Rosélia sempre cabia mais um. E eu claro, aproveitava que não era nem leso. Fazia sol, estávamos no quintal, fazia chuva, do mesmo jeito.

 

O tempo passou e com ele veio a perda da inocência, a malícia, a maldade, as ambições, a vontade de vencer, mas, o quintal ficou e com ele o que de mais puro se pode guardar de uma vida: o amor de menino. Hoje entrei na casa que há anos não adentrava. Uma constatação incômoda me saltou aos olhos: como era pequeno o quintal da Rosélia, grande mesmo era nossa imaginação, grande mesmo era a nossa alegria. Como ficam pequenos os quintais quando a gente cresce. Volto ao lugar que me prende como âncora à minha infância para me despedir da proprietária e agradecer. Obrigado Rosélia, por ter me deixado entrar e obrigado por me deixar brincar agora no quintal das minhas memórias. Até um dia.

 

Mencius Melo é jornalista, músico, compositor vermelho, membro da atual Comissão de Artes do Garantido e tão apaixonado pelo ‘Boi do Povão’ quanto a Rosélia Bulcão.

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