Elevação da avenida Paraíba poderá aumentar número de atingidos por enchente

Barragem, construída sem qualquer tipo de estudo ambiental, levará água a locais que antes não eram inundados e moradores da área aguardam conclusão da obra

Elevação da avenida Paraíba poderá aumentar número de atingidos por enchente Foto: Igor de Souza Notícia do dia 02/03/2015

Menos de um ano após a entrega da obra de elevação da Avenida Paraíba, o local já apresenta sinais de deteoriação, e o que parecia ser solução poderá ser um grande problema à população. A obra que prometia trazer tranquilidade às proximidades traz problemas como ferro expostos, sem espaço para pedestres, com as casas abaixo do nível da rua e sem qualquer tipo de sinalização alertando ao problema. No entanto, com a proximidade do mês de março e com o aumento do volume pluviométrico em Parintins, os moradores começam a se preocupar com o avanço das águas no perímetro urbano do município. A barragem construída com a elevação da via poderá inundar um espaço maior do que o de anos anteriores.

Com as cheias volumosas dos Rios Madeira, Juruá e Negro é praticamente certo que a enchente no Rio Amazonas seja tão grande quanto, ou, dependendo da chuva nas cabeceiras dos afluentes, a situação possa ficar ainda pior.

Um dos pontos mais críticos durante o período de cheia em Parintins na avenida Paraíba é próximo à feira Zezito Assayag, no bairro do Itaúna. Com a elevação do nível da via, realizada no ano passado, a expectativa é que as águas da enchente não inundem o local e o trânsito não seja interrompido. No entanto, a barragem feita pela Prefeitura Municipal de Parintins não levou em consideração a possibilidade que a água poderá afetar outros locais que antes escapavam ilesos da cheia, e, consequentemente, mais pessoas serão afetadas pela enchente.

“Eu não tinha pensado nisso, mas agora eu já começo a ficar preocupado”, ressalta Manoel Gracindo, 43, feirante na ponte do Itaúna e morador do bairro do São Francisco. Manoel conta que está acostumado com a alagação na avenida, mas que dessa vez, a situação pode ser pior. “Antes eu poderia mudar o meu local de trabalho. Mas agora mudar minha casa é difícil. Nunca pensei que a minha casa poderia ir para o fundo depois da obra”, relata.

Transtornos

A dona de casa Maria do Carmo Oliveira, moradora do bairro, também nunca imaginou que a obra de elevação da avenida Paraíba poderia trazer transtornos à vida dos moradores do São Francisco. “Será que eu vou ter que fazer maromba”, indaga-se a moradora, mãe de seis filhos e aposentada. “Peço muito aos meus filhos para que eles estudem e possam dar um futuro aos meus netos. Não tive oportunidades, sempre trabalhei em casa de família e este foi o lugar que consegui para criá-los. Ainda não tive minha casa alagada e torço para que nunca seja”, finaliza a dona de casa.

“Acho que eles não pensaram nisso, não. Vai ter é que fazer um muro pra não deixar a água passar”, brinca o moveleiro Antônio Oliveira, esposo de dona Maria do Carmo. Para Antônio, nascido na região do Rio Jacu, no Uaicurapá, a cheia pode até trazer fartura para o campo, mas na cidade é praticamente um castigo aos atingidos. “Ajudava meu pai no roçado durante o período de seca e pescávamos quando enchia. Para nós, a cheia era algo muito bom, tinha muito peixe e muita fartura. Mas aqui na cidade, não. A água é suja, cheira mal e traz doença. A gente sabe que mora perto de várzea, mas não imaginei que, um dia, a enchente poderia nos atingir”, destaca.

Tempestades

No domingo, 22, choveu forte por aproximadamente seis horas na zona urbana de Parintins. De acordo com informações preliminares do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu entre 16 e 20mm, o equivalente a quase 10% de toda a chuva esperada para o mês de fevereiro, que tem média histórica de 219mm. As fortes chuvas que caem na Amazônia neste período, somadas às grandes cheias que já assolam diversos municípios do interior do Amazonas, poderá provocar uma das maiores enchentes da história de Parintins. Com a barragem construída na avenida Paraíba, a situação poderá ser ainda mais grave para os moradores dos bairros de São Francisco e Itaúna I. Sem esquecer, claro, que outras áreas da cidade podem ser afetadas com o aumento do índice pluviométrico e o consequente aumento no nível do rio Amazonas e do lago Macurani.

Defesa Civil

A equipe do REPÓRTER PARINTINS entrou em contato com o coordenador da Defesa Civil no município, Jofre Lima. Jofre afirmou à reportagem que está em Manaus, resolvendo problemas pessoais. Durante duas semanas, a reportagem tentou entrar em contato com os responsáveis pelo departamento em Parintins, mas não obteve êxito.

Mais de 20 imóveis, entre residências e comércios, foram afetados pelo serviço de elevação do nível da avenida Paraíba. Como a obra teve mais de um metro de aterro, o piso dos imóveis ficou abaixo do nível da via e isso obriga os proprietários promover a compra de aterro para deixar o chão das casas no nível da rua.

Dona Sílvia Mendonça, ao mesmo tempo em que estava contente com a obra, receava ter que comprar mais carradas de terra. Ela conta que quando resolveu comprar um terreno para morar na Paraíba teve que comprar mais de 100 carradas de terra. “Acho que vou ter que fazer o mesmo para ter que descer escada para ir pra casa”, explica.

 

João Carlos Siqueira especial para o Repórter Parintins

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