Diário de bordo
Deixando a Baronesa em proteção dos fortes ventos uivantes que fazem o rio Amazonas mostrar toda sua fúria. Cansado e com o corpo todo dolorido, vou em direção à casa de meus pais. Pensamentos voltados para meus pais que já partiram para sua última viagem. Que vazio! Que silencio! Uma tarde de domingo. Uma casa sem vida! Procuro algo para alimentar o corpo. Nada! Absolutamente nada! Um oco! Uma saudade! Tomo um banho para revigorar o corpo, hiberno e acordo quando a noite já está dando entrada pra o amanhecer. Todo o meu Ser se agita! Volto a pensar na Selva de Pedra. Questiono! Teclo! Nada! Silencio total! Até quando?
Minha Baronesa descansa e recupera suas forças. É um novo dia! Uma festa dos passarinhos que saúdam o amanhecer com seu cantar. Café da manhã no Mercado Municipal. Busco seguir meus passos do passado. Estou de volta as minhas origens! Recordo de minha infância. Cine Teatro Brasil, mais tarde Cine Saul. Construção em estilho grego, com suas colunas Dóricas, que nos faziam acreditar que estávamos entrando no templo da Deusa Grega Diana. Não existe mais! Está completamente modificado(?) Já não existe mais a beleza de sua antiga arquitetura. A imbecilidade destruiu um marco histórico do nosso município.
Banco da Amazônia, símbolo do áureo tempo da borracha, também, teve sua fachada modificada.
Praça da Prefeitura ou Paço Municipal, local de grandes e memoráveis embates de ideias políticas. Foi nesse local que ocorreram os grandes momentos cívicos do nosso município: Vila Nova da Rainha, Vila bela da Imperatriz, Parintins e lá se vão mais de trezentos anos de nossa história. Chegada da Família Real ao Brasil, Independência do Brasil, Cabanagem, Proclamação da República, grandes desfiles cívicos, memoráveis carnavais, foi ali que em 1958 foi comemorado o campeonato mundial de futebol. Hoje encontramos uma praça completamente destruída e seu símbolo maior, o prédio que abrigou a prefeitura onde minha mãe (dona Gemica, como prefeito de Parintins) assinou a lei que criou o SAAE, está em fase de desabamento.
Praça do Cristo! Outro marco histórico de Parintins, que em épocas passadas existia uma pequena capela, que foi derrubada para dar lugar ao Cristo. Está em completo abandono pelo poder municipal. Caracol! A nova geração não sabe e desconhece que ali na atual Balaustrada, existia um verdadeiro e único marco do nosso município que o diferenciava dos demais municípios desse Brasil. Era realmente um formato de caracol. Também foi destruído! Essa não é mais a Parintins das nossas lembranças.
Rua da Frente, assim conhecida por ser a primeira rua de Parintins. E nessa época existiam somente três ruas: a Rua da Frente, a Rua do Meio e a Rua de Trás. Grupo Escolar Araújo Filho, grandes mestras por lá passaram: dona Alzira Saunier, dona Anita Freitas, dona Maria Augusta, dona Maria Cardoso Bulcão, dona Ana Joana Bulcão, dona Geminiana Bulcão Bringel e tantas outras professoras que tiveram a bondade e inteligência de educar muitos dos atuais dirigentes do nosso município. Pena que alguns não souberam absorvem esses ensinamentos.
Matriz Nossa Senhora do Carmo, hoje conhecida como Igreja do Sagrado. Com sua torre a ostentar um dos primeiros relógios do Amazonas, nos levam a recordar um passado religioso de Parintins. Marca pontualmente as horas. Isto quando funcionava! Foi um presente de nossa Família (Bulcão Braga) importou da Europa, para que a população pudesse através de seus badalar saber a hora exata. Em valores da época, qualquer coisa em torno de 25.000 contos de reis (era muito dinheiro). Na Rua do Meio, lembro do Bar 4 Azes. Na rua de Traz, a Furna da Onça, local onde nasci, hoje é um açougue. Rua Amazonas é bem mais recente, foi idealizada por Fausto Bulcão. Muitas lembranças brotam em nossa memória! Fui conhecer um pouco do nosso presente.
O mais novíssimo monumento alusivo à festa Noelica – O Papai Noel Gigante. Obra prima e monumental que nosso alcaide oferta aos seus munícipes. Realmente é um gigante! Símbolo gigantesco de sua nova ordem(?) As línguas felinas dizem que a ordem veio de cima. Coloca ele sentado. Todos que passarem por ele terão de levantar a cabeça. E assim foi executada a ordem. Porém, um vento forte, que veio do Norte, soprou tão forte que o gigante desabou. Sim! Desabou e foi ao chão! Ficou literalmente de quatro. Isto é, de cabeça para baixo, a boca beijando o chão e bumbum arrebitado para cima. Nessa posição meditativa, quem passava dava uma palmada no Papai Noel Gigante e falava: ajoelhou ... ! Tem que rezar. Vê se volta a realidade. Estou tentando entender o que essa mensagem significa. Talvez daqui a dois anos teremos uma resposta.
Por Sérgio Roberto Bulcão Bringel