Tia Leó: Mãe de todas as mães

Notícia do dia 12/05/2014 O dom se revelou quando pariu, sozinha, o quinto filho, batizado de Luiza, na madrugada de novembro da década de 1970 em uma casa de madeira na comunidade do Parananema. De lá para cá, hoje aos 67 anos de idade, Leonilza Gadelha de Souza, conhecida como Tia Leó, perdeu as contas de quantos partos fez em Parintins, uns inclusive de risco. No início do ofício, as práticas tradicionais de parto eram comuns na ?Velha Tupinambarana?, das ruas de chão batido e estradas com caminhos estreitos.

O apelido foi dado pelos avós ainda na infância pela influência de sotaques. De origem humilde, é mais velha de 14 irmãos maternos e 6 paternos. Ela constituiu família ainda aos 15 anos quando se casou com Édson Ferreira de Souza, atualmente com 76 anos de idade, com quem teve oito filhos criados com dificuldades. ?Ajudamos também a criar nossos netos. Sinceramente, não tenho ideia de quantos partos foram. Descobrir esse dom através de um parto que eu tive só porque meu marido estava doente, com febre?, lembra.

Ela preferiu não preocupar o esposo e preparou tudo para encarar o parto por saber da chegada do bebe naquele novembro. ?Não tinha alternativa, a não ser me colocar ali. Graças a Deus a criança nasceu bem. Foi um parto ótimo por ter sido completo. Estava uma noite horrível com tempestade, mas depois passou. Quando minha filha chegou, acredito assim que aconteceu entre duas e três horas?, conta. A partir deste período, Tia Leó passou a ser procurada por parturientes e com as mãos trouxe ao mundo muitas vidas.

Na época, iniciava os festejos em honra a Santa Luzia, padroeira da comunidade do Macurani. ?Era uma foguetada para lá, inclusive pedir para Santa Luzia me acompanhar no momento do parto. Tenho certeza que ela estava ali perto de mim naquele momento. Dediquei o nome de Luzia para minha filha em homenagem a santa. Ela é iluminada e recebeu batismo na comunidade de Santa Luzia. Continua devota da santa e participa das festas?, relembra.

Dificuldades

Para criar os oito filhos, Dona Leonilza enfrentou dificuldades, mas ?não me falhou a coragem de lutar, principalmente para colocar na escola que naquele tempo era muito difícil. Se na minha época, já foi difícil estudar. Os três mais velhos começaram lá pela comunidade do Parananema. Depois, estudaram um pouco na Santa Luzia. Então, decidimos nos mudar para perto do balneário da Cristina?. O ano de 1975 marca a vida da família de Tia Leó pela mudança. Ela trabalhava na Fabril Juta, com o pensamento de colocar os filhos na escola.

Nesse período, os filhos mais velhos encaravam uma longa estrada de pés todas as manhãs para chegar à Escola Ministro Waldemar Pedrosa, no bairro São Benedito. ?Primeiro, trabalhávamos com roça e meu marido desenvolvia vários tipos de agricultura familiar. Eu criava galinha e pato para ajudar nas despesas. Quando entrei na Fabril Juta, cumpria serviço em escala de rodízio. Ficou muito difícil prosseguir no emprego?, relata. A família recebeu um pequeno pedaço de terra do campo de criação de gado e agricultura de Didi Vieira.

Voluntária
Tia Leó se mudou da Cristina para a área que com menos de 10 anos foi loteada para se tornar o bairro Dejard Vieira. A parteira era procurada com frequência pelas grávidas de noite. ?Na época não era fácil levar para o hospital, principalmente gestantes sem pré-natal porque a maioria das mulheres até hoje ainda tem certas dificuldades em fazer esse acompanhamento. Mais tarde, trabalhei na Pastoral da Criança por uns 20 anos. Era um trabalho voluntário e cada uma trabalhava com oito famílias?, destaca.

Em determinado período da vida, Tia Leó chegou a ser criminalizada por ajudar grávidas e ficou bastante triste. ?Certa vez um comentário me doeu muito, mas eu tinha minha consciência tranquila por contribuir sempre para o bem. Peço perdão se em algum dia pratiquei alguma grosseria ou tratei mal alguém. Nunca ensinei remédios que pudessem prejudicar uma gravidez. O último parto que ajudei foi difícil e deu tudo certo no final. Hoje, me sinto grata por ser reconhecida como um símbolo do dia das mães?, expõe.

Gerlean Brasil
Especial Para o Repórter Parintins
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