Brasil, o país dos golpes

Notícia do dia 03/04/2014

Por João Carlos Siqueira / Professor universitário

No último dia primeiro de abril, o Brasil relembrou os 50 anos do Golpe Militar de 1964. Durante 21 anos, o país mergulhou em um período em que liberdade era apenas uma palavra no dicionário e que ser oposição a regime era, literalmente, brincar com a própria vida.


Podemos acompanhar, nos dias de hoje, protestos contra o governo que foi extremamente autoritário e que matou inúmeras pessoas que se opuseram às vontades dos militares. Ser militante ? comunista ? era perigoso ao Brasil, ser militar também o era, afinal, eles eram o próprio perigo à sociedade.


O que nós, enquanto brasileiros, precisamos ficar atentos é ao fato de boa parte das mudanças políticas em nosso país foi feito através de golpes, sejam eles violentos ou não. Ao observarmos ao longo da história, perceberemos que sempre houve manobras em mudanças de comportamento político, pouco havendo naturalidade nestas transições.


O primeiro golpe político no Brasil data de 1831, quando D. Pedro I abdicou do trono do Império do Brasil e houve tentativa de emancipar seu filho, D. Pedro II, àquela altura com menos de dezoito anos de idade. Criou-se, então regências provisórias para que em 1840, finalmente, o filho do proclamador da Independência pudesse assumir o trono, em meio a instabilidade política do país causada por duas revoluções contemporâneas ? Cabanagem, no Pará; Farroupilha, no Rio Grande do Sul.


Em 1889, a Proclamação da República foi, de certa forma, um golpe militar. Com a abolição da escravatura no ano anterior, o Brasil perdeu a principal forma de trabalho que sustentava o Império e sua política oligárquica. A partir de então, os representantes dessa elite econômica também quiseram opinar e tomar decisões referentes ao país. Foi quando o Marechal (patente militar) Deodoro da Fonseca proclamou que daquele momento em diante deixaríamos de ser Império e passaríamos a ser República ? governada por militares, até o começo do século XX.


Após os governos dos militares ? três no total ? o Brasil também passou por um novo ?golpe?: A política café-com-leite. Apesar de haver eleições para a escolha dos representantes, os presidentes sempre eram paulistas (café) ou mineiros (leite). Com o crash da Bolsa de Nova York, em 1929, o Café brasileiro perdeu força no mercado internacional, abrindo possibilidade para um novo golpe ? o do gaúcho Getúlio Vargas, que perdeu a eleição mas tomou o poder na marra.


Em 1937, o mesmo Getúlio deu outro golpe que conhecemos como Estado Novo. Com a nova Constituição, o presidente do Brasil tinha total poderes e seu regime se assemelhava aos modelos totalitários de Mussolini (Itália) e Hitler (Alemanha). Com a derrota dos dois comandantes na Segunda Guerra Mundial, o modelo adotado por Vargas perdeu força e ele foi obrigado a ceder espaço para Eurico Gaspar Dutra.


No entanto, quando Dutra assumiu o poder em 1946, houve o risco de outro golpe militar. O chamado Tenentismo tinha líderes generais importantes como Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes, entre outros e manobrou para assumir o poder logo após a deposição de Getúlio. Dutra concluiu seu mandato, Vargas assumiu o poder de novo ? morreu -, Café Filho passou, Juscelino reformou, Jânio renunciou e João Goulart, o Jango, foi a vítima derradeira dos militares. Depois da falência do modelo econômico proposto no triênio 1961-1963 e do começo da influência da União Soviética em Cuba, os Estados Unidos da América financiou as forças armadas de diversos países da América Latina ? Chile, Argentina e Brasil, por exemplo ? para que tomassem o poder e evitassem, assim, o avanço comunista pelos pobre países Latino- Americanos.


Em 1985, o Brasil deixa de ser governado por militares ? mesmo havendo mais uma teoria da conspiração com a morte do presidente eleito Tancredo Neves ? e Sarney virou presidente. O Brasil estava em meio ao caos econômico quando em 1989 houve, de fato, a primeira eleição direta para a Presidência da República.


Por ironia do destino, houve novo golpe. Dessa vez, de maneira midiática. O favorito perdeu. Quem venceu sofreu Impeachment, quem assumiu tentou acalmar a economia e quem conseguiu acalmá-la foi presidente por oito anos. Só depois de todo esse tempo é que o favorito derrotado em 1989 conseguiu se eleger como representante máximo do País.


Entretanto, a grande decepção é saber que os golpes não pararam. Compra de votos de deputados, Refinarias super-faturadas, nova crise econômica e política, a inflação voltando e outros problemas que os perseguidos pela ditadura não conseguem ? ou não querem ? resolver. Mais uma vez, vemos a perpetuação do poder de mais um determinado grupo político que se utiliza da Máquina Pública para fazer populismo. O Coronelismo está mais vivo do que nunca. Infelizmente, hoje em dia os golpes são disfarçados de Bolsa.

 

 

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