No mês de outubro do ano passado, muitas pessoas foram surpreendidas com o anúncio da data de gravação do CD/DVD 2014 do Boi-Bumbá Garantido. Numa atitude ousada e arriscada, a diretoria do Boi vermelho propagou ao mundo que seu combo áudio-musical seria gravada no dia 31 de dezembro, no Bumbódromo. Exatamente! Pela primeira vez, um bumbá faria uma grande festa de réveillon, e, de quebra, ainda gravaria suas novas toadas, levando sua torcida ao delírio.
Até então, tudo bem. Uma atitude inovadora, e, até certo
ponto, corajosa dos comandantes do boi vermelho. E estaria tudo bem, se não
houvesse a vontade da Prefeitura Municipal de Parintins em realizar uma grande
festa de réveillon também, e exatamente ao lado do Bumbódromo, na Praça dos
Bois.
Depois de muito insistir para que o Boi Garantido mudasse a data de sua gravação, sem sucesso, a prefeitura manteve a decisão de fazer esta grande festa, contratando uma das bandas de maior sucesso do Brasil, a paraense Banda Calypso. Como bônus, ainda contratou para o réveillon o forró da Banda Saia Rodada e várias atrações locais, dando privilégio aos talentos de Parintins.
Como numa briga infantil, ambas as atrações posicionaram suas caixas de som em direção à festa ?adversária?, numa tentativa de demonstrar que sua festa era a melhor, querendo chamar atenção do público de qualquer forma. Houve, inclusive, passeios de helicópteros com o boi Garantido querendo atrair o público que ali estava querendo ver Joelma, Chimbinha e companhia limitada.
Na madrugada do dia primeiro de janeiro, a cidade já discutia o óbvio: o evento da prefeitura municipal foi um sucesso de público; e o do Boi Garantido, um fracasso retumbante.
Diante dessas circunstâncias, ficam algumas lições: primeiro, o réveillon é uma festa do povo e para o povo, sem segregação. Os bois de Parintins tem a mesma importância, e nenhum dos dois é melhor que o outro, institucionalmente falando; Segundo, a diretoria do Boi-Bumbá Garantido necessita entender que o mundo não gira em torno de seu umbigo. Se não bastasse a assinatura unilateral de transmissão do festival, praticamente obrigando o boi adversário a fazer o mesmo (o que não ocorreu), transformando o festival do centenário em um grande balaio de gato, onde cada agremiação foi transmitida por uma emissora diferente, entre outras coisas que foram encobertas pelo título de 2013.
Espero que as agressões sofridas por membros da diretoria (um deles, extra-oficial mais que oficial) seja entendido como um alerta e um recado de itens individuais e de torcedores de um modo geral. O povo vermelho da Baixa do São José, está cansado de ver seu boi amado sendo utilizado como instrumento de barganha política.
E, que em 2014, o Boi Garantido tenha FÉ em dias melhores, pois o ano não começou bem.
João Carlos Siqueira / Professor universitário