Indígena chega ao Conselho de Artes do Caprichoso

Indígena chega ao Conselho de Artes do Caprichoso Notícia do dia 17/11/2013 O Boi Caprichoso inaugura um novo momento no festival de Parintins ao integrar o primeiro indígena ao Conselho de Artes. Trata-se de Ozias Glória de Oliveira ou Yaguarê Yamã Apurinãguá, 40 anos. Ele é filho de índio Mawé do rio Andirá com uma índia Maraguá do rio Abacaxi, município de Nova Olinda do Norte. Ozias Yaguarê Yamã é remanescente do povo Maraguá constituído por aproximadamente 550 índios distribuídos em território de 750 mil hectares. A área indígena fica entre Maués e Nova Olinda.

Ozias Yaguarê entra no Conselho de Artes, com a meta de trazer a verdadeira face indígena para dentro do festival de Parintins. A inovação começa a partir da aceitação do convite para integrar o Conselho de Artes, e contraria lideranças indígenas. Apesar das críticas recebidas, pensou de maneira diferente e diz que mais tarde será entendido.

No Caprichoso viu a possibilidade de continuar a lutar no movimento indígena para ser ouvido por todos. Dessa maneira, usa-se a melhor parte do indígena no festival, a cultura verdadeira e autêntica. Não é atoa que o tema do Caprichoso para o festival 2014 tem esse jeito todo de Yaguarê Yamã. Por falar cinco línguas indígenas, sugeriu dez temas, com diferentes significados, para os membros do Conselho de Artes. Para a surpresa, “Táwapayêra” caiu no gosto dos conselheiros. O termo vem da língua Nheengatu, o tupi antigo. Mostra a força do movimento indígena inserido no Caprichoso.

Formação
Aos 10 anos saiu do rio Abacaxi. Em Parintins estudou nas escolas Waldemar Pedrosa e Agrícola. Após 10 anos decidiu ir para Manaus em busca de melhores condições.  De religião adventista, ganhou bolsa para estudar em São Paulo, na Universidade de Santo Amaro (Unisa).

A grandiosidade de São Paulo o deixou isolado da cultura indígena. Nascia o desejo de procurar por irmãos índios. Yaguarê encontrou Daniel Munduruku, com quem despertou a paixão pelo universo literário. Nas andanças com lideranças indígenas na terra da garoa surgiu o espírito de ativista ambiental.

O maraguá se tornou referência por defender causas indígenas e começou a viajar pelo Brasil. Em vez de abordar temática política opositora ao governo, entendia que o índio para entrar na sociedade não precisava brigar, mas discutir os problemas pela ótica de palestrante e escritor.
 
Literatura
O conhecimento era o principal instrumento de luta. O primeiro livro escrito por Ozias Yaguarê, Puratig, o Remo Sagrado, de temática Saterê-Mawé, foi publicado pela Editora Peirópolis, com boa aceitação e lugar reservado no coração. Considera um dos mais importantes, dentre 20 já publicados.

Merece destaque, Sehaypóri, escolhido o livro do ano em 2008, ganhador de três prêmios internacionais. O segundo maior prêmio do mundo de temática infanto-juvenil, na Alemanha, escolheu a obra. Em 2013, o catálogo de Bolonha, na Itália, terceiro maior prêmio da literatura, selecionou três volumes de Yaguarê.

Alguns livros estão traduzidos para alemão e inglês. O próximo volume, Maraguápeyara, vai ser lançado em dezembro deste ano pela Editora Valer. Posteriormente, a Editora Descaminhos de São Paulo deve publicar a obra intitulada Mitologia Maraguá. Dos 20 livros, o PNDE levou metade para as escolas de todo o país.  

O retorno
A vontade de retornar ao Amazonas era grande na certeza de reorganizar o povo Maraguá, até então conhecido pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como subgrupo Sateré-Mawé. Via que o povo corria riscos de entrar em extinção pela pouca quantidade de pessoas.

Com objetivo de resgatar a questão cultural, organização do povo e território, voltou para o lar em 2004. Conversou com os velhos, tios, sobre a intenção. Eles viram ser necessário acontecer e acataram a ideia do sobrinho. Iniciou-se aí o processo de reorganização dos Maraguá.

Agora, os Maraguá conquistaram autenticidade. Tudo isso teve um preço. Com o retorno, perdera muitos contatos em São Paulo. Um dia, o maior amigo e aliado, Daniel Munduruku, queria que seguisse os mesmos passos na metrópole para conquistar o mundo.

Chegou a ser indagado pelo amigo sobre a razão de voltar para o meio do mato. Ao contrário de Daniel Munduruku percebia que precisava retornar para reorganizar o povo. Na época, na área indígena não havia uma única escola. Hoje são três para educar os irmãos.

Gerlean Brasil/ Repórter Parintins

Tags: