Fungo amazônico degrada chorume

Fungo amazônico degrada chorume Notícia do dia 11/08/2013 O uso em laboratório do fungo orelha de pau, “urupé vermelho”, comum na região, cujo nome científico é Pycnoporus sanguineus, tem resultados promissores em Parintins pelo potencial para degradação do chorume da lixeira. Durante dois anos, Adriana da Silva Nunes desenvolveu experiências com o fungo através da técnica de biorremediação no Mestrado em Biotecnologia e Recursos Naturais da Amazônia, no Centro de Estudos Superiores de Parintins (Cesp), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Concluída em 2012, a pesquisa científica é pioneira e produziu enzimas do complexo oxidativo capazes de degradar estruturas moleculares geradas a partir da decomposição da matéria orgânica. Adriana Nunes afirma que os resultados da experiência podem ser uma das alternativas para minimizar os impactos do chorume produzido no aterro controlado de Parintins. “Diminuiu consideravelmente a toxicidade do chorume, nas concentrações utilizadas em laboratório”, científica.

O fungo orelha de pau cresceu somente com o uso do chorume como fonte de carbono. Segundo a pesquisadora, isso é mais animador ainda, porque geralmente os fungos necessitam da otimização das condições para o crescimento. Para a implantação de um projeto dessa dimensão, Adriana Nunes diz que depende de muita vontade e investimento, pois em laboratório se conseguiu fazer bem, mas transmitir para um local a céu aberto, especificamente uma lixeira, exige um pouco mais de estruturação.

Pré-tratamento
A estruturação já existe no Brasil. Trata-se de uma estação de pré-tratamento do chorume. “Esse é um projeto que pode ser aplicado sim em Parintins, em qualquer tipo de lixão ou aterro sanitário. Se faz um pré-tratamento com esse fungo numa estação em que o chorume é coletado para, posteriormente, passar por processos físico-químicos e biológicos. Seria sensivelmente diminuída a toxidade, a coloração, a demanda química e bioquímica de oxigênio para poder haver a recuperação do líquido”, explica

O chorume é a base tóxica do lixo orgânico e, quando infiltra no solo, se torna um grande problema ambiental. De acordo com Adriana Nunes, essa é a realidade na lixeira de Parintins. Assim, toda a estrutura da área é comprometida. Um projeto desenvolvido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) de 2005, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), descobriu a existência de uma rocha protetora de aproximadamente dois metros de espessura sob a área da lixeira.

Baseada no estudo do CPRM, a pesquisadora enfatiza que se a rocha não existisse, estaria consideravelmente tudo comprometido pela contaminação com a infiltração do chorume no lençol freático. A transferência da área de destinação dos resíduos da cidade para outro local tem de ser com estruturação, desde físicas a técnicas de engenharia avançadas.

A estruturação permitiria a implantação de uma estação de tratamento para trabalhar o fungo na degradação do chorume. O mundo cresce e, em contrapartida, aumenta a geração de resíduos. Os resíduos, juntamente com a matéria orgânica, são degradados. Para um tratamento adequado do lixo, é preciso coletar o chorume para, através de pré-tratamento, se tentar diminuir consideravelmente a toxicidade, níveis de proteínas e grupos cromóforos. Na experiência de Adriana Nunes foi feito o pré-tratamento do chorume em laboratório e consistia no processo de autoclavagem.

Etapas
O chorume era oxigenado e centrifugado para extrair o lodo e ficar só a matéria com o complexo. A pesquisadora garante que quando se trata de uma técnica de engenharia adequada para os lixões, deve haver o trabalho nas mesmas etapas, mas em maior proporção. “Nessa estação de pré-tratamento, precisaríamos de uma aeração adequada e decantar o lodo. Existe a técnica de biorremediação, na qual a etapa concluinte acontece com a utilização de fungo”, acentua.

Tentaria se diminuir a toxicidade, a coloração, além da demanda química e bioquímica de oxigênio do chorume. O líquido, possivelmente sairia menos tóxico ao meio ambiente. A biorremediação é usada na indústria têxtil, uma das mais poluentes. Na avaliação da pesquisadora, o que acontece na questão do lixo é um problema político. Ela indica que tem de ocorrer um engajamento entre os órgãos públicos e o Estado precisa investir numa estação de tratamento adequada.

Na maioria dos municípios brasileiros predominam apenas lixões a céu aberto, mas as leis, especificamente de resíduos sólidos, exigem a criação de aterros sanitários até 2014. Em Parintins, se houve resultados satisfatórios com o “urupé vermelho”, não é descartada a descoberta de outros fungos com potencial de degradação. “Temos resultados bastante promissores para usar fungos em escala industrial”, conclui a pesquisadora ao destacar que os lixões são predominantes em países subdesenvolvidos.

Gerlean Brasil
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