Apesar dos protestos, no fim da tarde desta segunda-feira, o presidente interino foi proclamado presidente eleito pelo Conselho Nacional da Venezuela. Para a presidente do CNE, Tibisay Lucena, "o sistema eleitoral funcionou perfeitamente". "Não é uma máquina com vontade própria, nem um algoritmo que trabalha por sua própria conta", disse, criticando a oposição por pressionar por uma recontagem nas ruas.
"Não será o acosso, a ameaça ou o amedrontamento os atos que vão invalidar o ato eleitoral. A Constituição e a lei são a única rota que os verdadeiros democratas respeitam", afirmou.Além disso, Lucena "rechaçou totalmente" e qualificou de "intervencionismo" as declarações dos Estados Unidos, que disseram que a recontagem é um passo "prudente e necessário" para a Venezuela, e a Organização dos Estados Americanos (OEA), que também apoiou a recontagem.
Mostrando apoio internacional de outros países, Maduro agradeceu, em seu discurso, o endosso de governos das nações que o reconheceram, como Brasil, Argentina, Chile, México, Colômbia, entre outros na região e no resto do mundo. Com 99,2% dos votos apurados, o CNE informou que a vantagem de Maduro aumentou levemente, passando para 1,77 ponto percentual.
Ele recebeu até agora 50,75% dos votos válidos (cerca de 7,56 milhões de votos) contra 48,98% de Capriles (quase 7,3 milhões de votos). O sistema venezuelano utiliza urnas eletrônicas, mas cada voto gera um recibo que é então depositado nas caixas de votação. Votaram no último domingo 14,97 milhões de eleitores, o equivalente a uma participação de 79,8% - comparecimento semelhante ao das eleições passadas.
Protextos
Simultaneamente, obedecendo aos chamados do opositor Henrique Capriles, a oposição saía às ruas para protestar contra um governo que acusa de "ilegítimo" e para tentar impor uma recontagem dos votos com a qual "as duas partes haviam concordado". Milhares de pessoas, em carros, motos e motocicletas bloqueavam o trânsito e faziam um "buzinaço" que se estendeu por várias horas no leste de Caracas, zona mais abastada da cidade e predominentemente opositora.
Um dia depois de protagonizar uma subida impressionante nas urnas, Capriles solicitou a presença de seus partidários em manifestações, atos políticos e passeatas. Ele também convocou um panelaço na noite desta segunda-feira em protesto contra a validação oficial de Maduro, pediu passeatas em todo o país na terça-feira, e prometeu liderar uma marcha sem precedentes na quarta-feira até a sede do CNE.
Durante seu discurso de vitória, na chamada varanda do povo do palácio de Miraflores, Maduro disse que não tinha medo da recontagem dos votos, como pediu a oposição ainda no domingo à noite. "Que sejam abertas 100% das caixas, não temos medo. Que as caixas falem e digam a verdade", discursou Maduro.
Divisões
"Nós acreditamos que ganhamos as eleições e o outro comitê acredita que também ganhou. Cada um está em seu direito de contar os votos", disse Capriles, nesta segunda-feira. Sem dar detalhes, Capriles já havia mostrado à imprensa um dossiê contendo mais de 3 mil supostas irregularidades que a oposição quer que sejam investigadas pelo órgão eleitoral.
"Se esta tarde ocorrer a proclamação do candidato oficial, quero dizê-lo que o senhor aceitou contar os votos", acusou Capriles. "Se o senhor for proclamado hoje, será um presidente ilegítimo, espúrio."
Ao ser proclamado presidente eleito da Venezuela, Maduro acusou a oposição de tentar "desconhecer as instituições democráticas" e aplicar um "golpe". "Denuncio que na Venezuela está a caminho de uma tentativa de desconhecer as instituições democráticas", discursou o presidente eleito. "Isso tem nome: golpe!"
"Se a burguesia tem tanto poder, que decidam (quem será o próximo presidente)", ironizou Maduro. "Puseram um presidente – durou 48 horas", afirmou, referindo-se ao fracassado golpe de 2002, que tirou Hugo Chávez do poder por menos de dois dias. "Outra vez estão nos enganando. Outras vez os cantos da violência estão correndo", afirmou.