História e memória de Parintins sob os escombros

História e memória de Parintins sob os escombros Notícia do dia 01/04/2013

Nas últimas semanas Parintins viu virar escombros três prédios antigos no centro da cidade. O primeiro a ser demolido funcionou durante muito tempo a residência e o comércio do empresário conhecido por Lico, descente de judeus e que viveu por mais de 30 anos na Ilha Tupinambarana. O prédio fazia frente para a Praça Cristo Redentor, mais conhecida como Praça Digital e, os fundos para  agência do Banco da Amazônia, na Rua Faria Neto.

O endereço comercial está dando lugar a uma nova loja de propriedade de um empresário da cidade de Santarém/PA, dono da extinta Lojas Esplanada. O segundo casario a vir abaixo pertencia à família Lobato, localizado também no centro, na Rua Silva Campos, próximo à igreja Sagrado Coração de Jesus. A velha casa foi adquirida por um empresário cearense radicado há vários anos em Parintins. Apenas as paredes laterais e frontais permanecem em pé. Os demais cômodos foram todos demolidos. Durante muitos anos uma das famílias tradicionais de Parintins viveu ali. A casa possui arquitetura do início do século passado.

Outra residência que conservava parte da história da cidade, pertencente à família Alaggio, italianos que constituíram família e trabalharam no ramo de panificação também foi sumariamente destruída. Algumas pessoas também comentam que a residência pertenceu à família do poeta, escritor e historiador Tonzinho Saunier, situada à Rua Benjamin da Silva. Da velha casa só restou a parte frontal.  

O primeiro grande desrespeito para com a memória da cidade foi à demolição do prédio da esquina da João Melo e Avenida Amazonas, em frente à Catedral Nossa Senhora do Carmo. O local deu lugar a um centro de conveniência, onde abriga cinco espaços comerciais. No velho prédio funcionou, há mais de 40 anos, a primeira delegacia do município e supostamente teria servido de abrigo ao guerrilheiro argentino Che Guevara, logo após comandar a Revolução Cubana ao lado de Fidel Castro.

A pesar dos inúmeros apelos de historiadores e da população a destruição foi inevitável e tendo o aval do prefeito Bi Garcia. No segundo andar, onde funcionou por pouco tempo um restaurante está abandonado.

 

Algumas reflexões do Impin

A presidente do Instituto Memorial de Parintins (Impin), Irian Butel tão logo tomou conhecimento do episódio divulgou uma nota na imprensa onde convida a população e os segmentos preocupados com a conservação do patrimônio histórico da cidade a se manifestar contrários a destruição.

Irian afirma que no decorrer dos processos de melhoramentos dos equipamentos comerciais e espaços urbanos, a cidade de Parintins, se redesenha. Contudo esse novo diálogo com o espaço traz consigo a voracidade das demolições, das quais as construções antigas são o alvo.

Embora conste na lei Orgânica do Município em seu “CAPÍTULO IV DA FAMÍLIA, DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO, Art. 171, § 4º - Ao Município cumpre proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e sítios arqueológicos.

“Parintins não possui mecanismos eficazes para efetivação das determinações legais para preservação e conservação de prédios antigos, por isso há fragilidade em mantê-los de pé. É importante enfatizar que o diálogo entre antigo e moderno é possível e lucrativo, apenas depende de um planejamento sério e investimentos por parte do Poder Público. As demolições em Parintins não são de agora, temos aí a antiga Delegacia, Mesa de Rendas (Sefaz) e outros prédios pertencentes ao conjunto arquitetônico da cidade. Cada prédio traz consigo a narrativa de seu tempo. São lugares de memória que nos dão significado e referências da cidade que somos hoje. Para um município que vive sob a imagem da Cultura não dispomos de um museu, galeria, cinema e teatro. Quantos prédios precisaram ser tombados ao chão? Para este questionamento não cabe apenas respostas numéricas, mas acima de tudo quais posturas serão adotadas, contudo vivemos em uma democracia e se esta é a vontade de todos, então podemos começar a preparar nossos livros de memórias, pois a tendência é que ele ganhe inúmeras páginas diante da atual conjuntura derrubadas e perdas dos alicerces de nossa história”, finaliza a presidente do Impin.

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