?Tanto por fazer! Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem, línguas que não aprendem, amor que não se dá. Tudo quanto se esquece. Amigos entre adeuses, crianças chorando na tempestade. Cidadãos assinando papéis, papéis, papéis, até o fim do mundo assinando papéis. E os pássaros detrás de grades de chuva. E os mortos em redomas de cânfora. (e uma canção tão bela). Tanto o que fazer! E fizemos apenas isto. E nunca soubemos que éramos e nem pra quê?.
No tempo da vaidade, da ganância e da soberba a poesia de Cecília Meireles resgata o valor da humildade.
Vivemos num mundo de almas perdidas. Homens crentes na vida como o destino final, e não como uma etapa da caminhada, perambulam por ai alimentando seu efêmero desejo de prolongar seu tempo na Terra. Sonham subornar o tempo. Sonham corromper a Deus. Tudo com o desejo de por aqui serem eternos e poderosos. Como são tolos!
Nem dinheiro e nem o poder são capazes de prolongar a vida. A vida se prolonga pelo amor e pela caridade. A vida dura mais visitando um asilo que numa reunião de negócios. A vida dura mais estendendo a mão que puxando o tapete.
Tem vida longa o médico voluntário e não o banqueiro avarento. Tem vida longa o menino descalço soltando papagaio e não o político corrupto. Tem vida longa o malabarista do circo e não o empreiteiro corruptor.
A felicidade está tão distante da violência, da opressão e da intolerância, quanto está perto do amor, da caridade, da justiça e da lealdade.
É a humildade, propagada nas belas palavras da poetisa, o caminho para prolongar a vida, não pelo tempo, mas pela intensidade dos seus sentimentos, pela grandeza dos seus atos e pela beleza da sua história.
Prolongar a vida é olhar pra trás saber que cumprimos a nossa missão de construir um mundo melhor para todos. E ter a humildade de reconhecer a vida como uma passagem, como nos ensina o provérbio aborígene.
?Somos todos visitantes desse tempo, deste lugar. Estamos só de passagem. O nosso objetivo é observar, crescer, amar... E depois vamos pra casa.?
Marcelo Ramos