Farinha vira artigo de luxo

Notícia do dia 21/01/2013 A farinha de mandioca foi o item da cesta básica recordista em aumentos num período de três meses. O produto é um entre tantos outros ingredientes indispensáveis para as principais refeições do dia-a-dia do amazônida. A falta de investimento no setor agrícola nos últimos anos, principalmente no plantio da mandioca que antes chegou a ser considerado um dos ?carros chefes? da produção rural, fez com que a farinha, produto derivado da mandioca, tivesse um aumento de mais de 100% nos últimos três meses em Parintins.

O frasco da farinha, medida utilizada na maioria das cidades amazonenses e que corresponde em torno de dois litros, está sendo vendido nos comércios a R$ 8,00 (oito reais) e chegou a ser comercializado em algumas tabernas e até nas feiras municipais a R$ 10,00 (dez reais). ?É um absurdo. Antes nós comprávamos dez reais de farinha e durava toda a semana, agora com os mesmos dez reais a gente come no máximo três dias?, reclama a dona de casa Joelma Vieira Soares, 36, moradora da rua Mario Jorge Cabral de Melo, no bairro Itauna II.

Outro fator agravante é o tipo de comércio praticado nas comunidades do município de Parintins. O atravessador dita a regra do jogo e chega a pagar de R$ 130 a R$ 150 pela saca da farinha e este repassa ao revendedor a R$ 200,00 ou mais. E isso fez com que o frasco tivesse uma elevação de 53,8%. ?Todo ano a venda da farinha passa por essa fase, mas depois os produtores do Pará começam a produzir e vendem o saco em até R$ 120 e aí o preço cai?, justifica a revendedora Elinalda Natividade Garcia, que trabalha em uma banca na Feira Zezito Assayag.

Dona Elinalda conta que antes trabalhava na produção de farinha na comunidade do Capitão, em Juruti, no Pará, porém as dificuldades da atividade rural fizeram com que ela deixasse a agricultura de lado e se mudasse para Parintins, onde exerce a atividade de revenda de farinha. ?Dá muito trabalho e não temos como transportar a produção, pois é muito longe nosso terreno. Assim é a realidade de todos os trabalhadores do campo?, arrisca a feirante Elinalda, ao tentar encontrar uma justificativa para a falta de interesse em produzir farinha.

Setor público
Como se não bastasse, Amarildo Leal, secretário de Produção e Abastecimento do Município afirma que alguns atravessadores pagam de R$ 90 a R$ 100 a saca de farinha nas comunidades do vizinho Estado do Pará e revendem em Parintins a R$ 250, um aumento de 177,7 % em quatro meses.

O novo secretário disse que ao visitar as agrovilas de Mocambo e Caburi encontrou os caminhões que fazem o transporte da produção agrícola dessas localidades abandonados. Os veículos estão sem freio, sem os pneus. Por isso levará  um mecânico para fazer a avaliação do estado em que se encontra este patrimônio dos comunitários.

Amarildo entende que somente um diagnóstico da real situação em que se encontram as localidades do município de Parintins poderá dar um parecer técnico e só então tomar as providências necessárias para ajudar o homem do campo.

Nesse início de trabalho a frente da Secretaria de Produção ele conta com a ajuda da Embrapa, Idam e de outros órgãos do Governo do Estado para alavancar a produção agrícola. Dois técnicos vão auxiliá-lo nessa nova empreitada.

A primeira ação conjunta da Embrapa será a utilização de sementes de mandioca. Elas serão plantadas para que depois possa haver o repasse aos produtores rurais interessados em plantar esta cultura tradicional das nossas comunidades.

Os preços praticados no comércio local mostram que a farinha até o final de outubro de 2012 valia R$ 4,00, fechando o ano em média de R$ 5,00. Em novembro de 2012, foi vendida a R$ 6,00, pulando para R$ 8,00 no fim do ano. Já em janeiro de 2013 custou, em média, R$ 9,00, e passou atingir o assustador preço de até R$ 10,00, variando de valor entre os vários estabelecimentos comerciais que vendem o produto.

Neudson Corrêa
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