O Festival Folclórico de Parintins 2015 celebra 50 anos, porém as famílias dos fundadores deste grandioso evento não tem hoje muito o que comemorar. A sessão especial realizada pelo legislativo parintinense no dia 8 deste mês parabenizou os bois Garantido e Caprichoso e deixou em segundo e até terceiro plano as pessoas que iniciaram esta festividade cultural.
O Repórter Parintins procurou remanescentes da época em que tudo começou, em especial, parentes dos fundadores do festival para saber sobre a brincadeira e que tem a dizer sobre a contemporaneidade da festa. Agnaldo Barros (irmão de Lucinor Barros), Maria do Carmo Muniz (irmã de Raimundo Muniz) e Valério Pereira (irmão de Xisto Pereira) deram depoimentos fortes, emocionantes e são unânimes em afirmar que falta reconhecimento às famílias dos criadores do festival.
Lembraças e críticas
Agnaldo Barros, 75 , além de irmão de Lucinor também trabalhou como secretário da JAC, Juventude Alegre Cristã, movimento católico que iniciou o Festival Folclórico de Parintins. Agnaldo afirma que “a história precisa ser corrigida e ser contada da forma correta, não como esta nos registros oficiais”. Segundo ele, o festival só foi realizado após a construção da quadra da Catedral do Carmo, feita para atividades esportivas. Xisto viu o Festival do Amazonas, em Manaus, e conversou com os demais para fazer o mesmo em Parintins.
Para Barros, hoje falta maior reconhecimento àqueles que realmente criaram essa festa que sustenta a cidade. Os familiares dos fundadores, que também viveram o início deste evento, são pouco lembrados tanto pelos bumbás, quanto pelas autoridades políticas.
Aos 76 anos, dona Maria do Carmo Muniz Rodrigues lembra dos trabalhos e da correria que era organizar o Festival. Ela conta que vendia mesas e ajuda nos preparativos da festa, sem esquece de nomes como Arlene Gatto, Graça Baima, dona Mundica e Jane que seguiam Raimundo Muniz e se dedicavam integralmente na realização da festividade. Ela conta que o irmão dela viu a brincadeira e as brigas de Garantido e Caprichoso nas ruas e resolveram organizar aquela disputa. “Meu irmão foi o homem que uniu os bois”, conta.
Dona Maria fica emocionada ao lembrar do irmão e do empenho dele para criar a festa. “Meu irmão era um homem simples. Pra nós ele era amigo, conselheiro, honesto. O orgulho que eu tenho é que ele morreu pobre, mas deixou uma lembrança muito boa”, lembra. Em meio a lágrimas, ela se diz decepcionada ao ver que hoje não tem condições de entrar no bumbodromo e ver os bois, como antes fazia. Ela faz dois pedidos: que haja responsabilidade dos presidentes dos bois para que a festa e a cidade tenha desenvolvimento; e que se tenha mais consideração com os criadores do festival.
Valério Pereira de Souza, 66, lembra que os bois saíam às ruas, mas não tinham organização. Foi quando os jovens da JAC resolveram organizar a brincadeira. Para ele, “o festival chegou hoje a uma dimensão que fica até difícil administrar o grande festival que tem. Há 50 anos atrás a gente não pensava que essa festa ia ter a grande dimensão que tem”, conta. Pereira vê também o lado negativo que o crescimento da festa tem. “Hoje só existe os dois bois. O povo de Parintins não assisti mais, não é mais nosso. O festival chegou a uma proporção que a gente chega a dizer que não é mais nosso”, critica.