Idosa sorteada com casa vive martírio da espera

Prefeitura não constrói casa sorteada no Programa Minha Casa Minha Vida

Idosa sorteada com casa  vive martírio da espera Fotos: Gerlean Brasil Notícia do dia 26/04/2015

Vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC), a aposentada Luíza Pereira da Silva, 79 anos, vive debilitada na rede em uma residência improvisada nos fundos do quintal na rua Itapiranga, bairro Palmares, porque teve a casa demolida para substituição de moradia. Há cinco anos, ela perdeu a voz e a locomoção. Para piorar, perdeu a visão no ano passado.

 

Luíza Pereira vive confinada no pequeno ambiente de um cômodo vulnerável às chuvas. A aposentada divide o espaço com o marido, o pescador aposentado José Orlando Magalhães Milleo, 89 anos, e o filho, o pescador Raimundo José dos Santos Magalhães, 37 anos. Além dos dois, ela recebe atenção da filha, a serviços gerais Maria Dilce Magalhães Belchior, 54 anos. O marido tem problemas de saúde no aparelho auditivo.

A família foi contemplada com uma residência do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, no governo Bi Garcia (PSDB) e Messias Cursino (PMDB). A moradia não chegou ser executada nem 30%. Para ter acesso ao projeto, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Trabalho (Semast) fazia sorteio na cidade para substituição de casas de famílias humildes. “Essas são as condições da casa da minha mãe. Hoje, minha mãe não anda, não fala e não enxerga”, revela Maria Dilce.



Promotoria
A filha procurou o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM) e a então promotora de justiça na época, Renata Cintrão, determinou a construção da moradia, devido à extrema necessidade da aposentada. Dona Maria Dilce afirma que o engenheiro Lucas Dias, secretário de obras, mandou medir e ordenou o início das obras. O resultado do trabalho são apenas metade da parede, parado em 2012. Preocupada com a saúde da mãe, a filha não desistiu de lutar.

 

Ela recorreu à prefeitura, atrás de resposta no começo do mandato da atual administração municipal para ver se conseguia resolver a questão. “Um dia me chamaram para ir à Câmara. O vereador, que hoje é presidente, falou para mim ‘nós só podemos fazer a casa, se você fizer outra filmagem. Eu disse, então isso se chama chantagem. Ele respondeu ‘que nada, se você quer a casa da sua mãe, porque você não pode filmar”, desabafa.

 

Ao se recusar ao interesse político, Dona Maria Dilce enfatiza que se fosse por filmagem, a casa da minha mãe já estava pronta e decidiu não deixar mais a mãe ser exposta. “Ele (vereador) disse que estava com medo do Bi. Eu respondi que se tivesse medo do ex-prefeito não teria o colocado na justiça. Só que a justiça até agora não fez nada pela minha mãe”, acrescenta.

 

Ela espera que haja indenização no processo para investir na construção de casa digna à mãe. “A gente vai ver quanto vai dar para fazer a casinha dela, porque se eu tivesse condições, já tinha feito. Do jeito que ela se encontra agora, só Deus sabe”, afirma.

 

De acordo com Raimundo José, a mãe passa mal no barraco no fundo do quintal. Com ajuda do filho, a aposentada faz necessidades fisiológicas em uma cadeira de madeira adaptada como banheiro. “Não é adequada para ela essa casinha. Prometeram fazer e até agora nada. Eu sou homem e mulher, dia e noite. Meu sono já é controlado e não durmo mais direto, porque carrego ela de noite e de dia”, frisa o filho.



Explicações
O ex-prefeito e deputado Bi Garcia explica que criou esse sistema de troca de casa de moradores humildes por uma moradia sem reboco, mas com dois quartos, banheiro interno, fossa, sumidouro, rede elétrica, hidráulica, sala e cozinha. Bi lamenta que o governo terminou e não conseguiu executar 100% o convênio.

 

Segundo ele, até porque o preço das moradias estava muito defasado, na ordem de R$ 16 mil, e hoje uma casa desse tipo sai em torno de R$ 36 mil. “Observa-se que aumentou muito mais do que 100% e pode chegar aí perto de 150%. Então, tem realmente situações de fim de governo e repassamos o convênio para o sucessor. Nós não retiramos nenhum recurso que não fosse emitido pela Caixa Econômica”, esclarece.

 

O deputado comenta que a casa da aposentada não tenha sido medida para ser construída e não existe nenhum pagamento da obra iniciada. Bi Garcia destaca que cabe ao atual prefeito dar prosseguimento aos convênios, porque não são do prefeito que sai, e sim do município com o Governo Federal. “O prefeito não procura dar continuidade nos convênios, todos eles ajustados na Caixa Econômica. É lamentável essa situação”, pontua.

 

Gerlean Brasil
Especial Para Repórter Parintins

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