Artigo - O operário e o livro

Artigo - O operário e o livro Foto: Arquivo Pessoal Notícia do dia 10/06/2020

João Baptista Herkenhoff *

 

A vizinhança afetiva, quase mística, entre o operário e o livro, lembra-me a cena que considero a mais bela do filme “O carteiro e o poeta”.

 

Trata-se daquele diálogo em que o poeta (Neruda, representado por Philippe Noiret) diz ao carteiro (Mario Ruoppolo, representado por Massimo Troisi) que, na alma dele, carteiro, já ardia a chama da Poesia.

 

Ele, carteiro, era poeta sem o saber. 

 

Pode haver sensibilidade para as coisas da cultura e da poesia em quem não é, por profissão, um intelectual.

 

Qualquer pessoa pode obter informações e aprender muito ouvindo rádio e vendo televisão, desde que assuma uma atitude crítica, em face da mensagem rápida desses veículos.

 

Também a leitura de jornais e revistas é extremamente importante.

 

Um povo não avança, politicamente, se não cultivar o hábito de ler jornais.

 

Finalmente, a Internet proporciona amplas possibilidades de fazer pesquisas, colher opiniões, ver o mundo.

 

Não obstante a relevância desses veículos, nenhum deles substitui o livro.

 

Só o livro permite o mergulho profundo no conhecimento.

 

O livro dialoga, questiona, provoca, desperta vôos.

 

Não se aprende a pensar sem a mediação do livro.

 

E já que o tema desta página é o livro, quero recomendar um título.

 

Trata-se do livro “Cartas do Pai”, escritas por Alceu Amoroso Lima para Maria Teresa, sua filha freira.

 

Este livro não está presentemente nas livrarias comuns, mas pode ser encontrado em sebos.

 

Também faz parte do acervo das boas bibliotecas.

 

Nessa correspondência com a filha freira, Alceu, cujo pseudônimo literário era Tristão de Athayde, examina os fatos do dia, do Brasil e do mundo, com aquele olhar de Fé que o caracterizou sempre.

 

A publicação das “Cartas do Pai” foi o resgate da travessia terrena de uma das mais dignas figuras da história contemporânea brasileira.

 

Coerente, intrépido, comprometido com o bem comum, Alceu personificou durante sua vida o catálogo de virtudes cívicas por cuja prática, na vida cotidiana, e consolidação, na consciência coletiva, deveríamos todos lutar, bravamente.

 

*  Juiz de Direito aposentado (ES)

 Email – [email protected]

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