Bate-zap

Bate-zap Foto: Portal Jander Vieira Notícia do dia 11/03/2019

* Robério Braga

 

O título desse artigo à primeira vista pode parecer estranho ao nosso leitor, mas se deve a uma prática nova de comunicação que substitui o antigo bate-boca, tão comum em esquina de rua, nos becos e vielas, nos salões de festas da dita alta sociedade ou nas brincadeiras de moleques dos meus tempos de quase rapaz. 

 

Dava-se sempre que havia um desentendimento entre partes e elas resolviam sair para o desaforo verbal. Muitas vezes em alto e bom som, e não raro descambando para  ofensas pessoais, desacatos e até pugilato. Os assuntos eram dos mais sérios aos mais triviais, quando o gênio dos contendores queria impor a vontade e a opinião, um sobre o outro, a qualquer preço. Na grande maioria dos casos não prosperava para além do local em que tivesse acontecido nem adiante dos muros dos amigos mais próximos.

 

Bem diverso disso o bate-zap alcança fronteiras inimagináveis, provoca adesões, dissensões, críticas e acende a ira de correligionários das partes em disputa, mesmo que seja por temas que, nem sempre têm relevância ou interesse nacional, nem servirão à comunidade e muito menos elucidarão determinados assuntos.

 

O que vemos nos dias atuais com algumas das mensagens enviadas por via desse meio moderno de comunicação que se utiliza do telefone móvel é uma verdadeira guerra de opiniões, contradições, intrigas e futricas, precipitações a mais não caber nas redes sociais. E os assuntos, em muitos casos são descabidos e até impróprios no sentido mais amplo do termo, não naquele comum de censura.

 

Logo em seguida ao azul para meninos e róseo para meninas o que se viu foi a polêmica do cantar ou não cantar o Hino Nacional Brasileiro. Nos anos da minha escola isso nem era objeto de discussão nem precisava ordem de quem quer que fosse. Era rotina.

 

Cantar o hino, hastear a bandeira, respeitar os mais velhos, homenagear os vultos insignes da Pátria... fazia parte natural da formação educacional, cívica e social. Mas agora parecia que nunca tinham visto isso e fizeram um verdadeiro inferno, embora seja de desconsiderar a mensagem formal do ministério, de todo estranha, para dizer o mínimo, mas que deve ser compreendida, pelo menos em parte, diante do completo abandono deste hábito.

 

Outra que deu o que falar no zap-zap foi a ordem judicial liberando um reeducando aprisionado a comparecer a velório de familiar, em estrita observância à lei de execuções penais, portanto, em conformidade com a regência legal do País. E mais, com as cautelas devidas e necessárias, diante do caso concreto. Foi um “deus nos acuda”, como dizia meu velho amigo Vivaldo Barbosa do alto de sua sabedoria. 

 

Como se não bastasse, em plena folia momesca, quando grande parte da população se deliciava com os festejos carnavalescos por todo o território nacional, eis que surge outro bate-zap inclemente envolvendo a autoridade presidencial, pela denúncia de atos obscenos em praça pública por folião afeito a tais práticas que, se bem pensamos, deveriam ser resguardadas à sua intimidade, e que, conforme alegam alguns, só vieram à rua em razão do excesso que o carnaval, indevidamente, pode provocar .

 

Para nós que conhecemos o bate-palma da Rua do marechal Deodoro, famoso pelo apelo comercial e animação de vendas que acaba provocando nos transeuntes, ficamos à margem dessa confusão, das provocações, reclamações e agressões verbais e cinematográficas lançadas no zap que partem da nossa terra para o mundo ver, e ficamos a pensar até quando o ser humano vai com a intolerância, a exacerbar atos e a procurar impor sua vontade, mesmo quando ele próprio sabe que não tem tanta razão quanto pensa.

 

Passado o carnaval, como sempre ouvi dizer, é hora do Brasil acordar e partir para o trabalho duro e sério em busca do soerguimento econômico, social e político, de preferência fazendo bom uso do bate-zap.

 

* Graduado em Direito pela Universidade Federal do Amazonas, especialista em Direito Agrário pela Universidade Federal do Amazonas, em Direito Público pela Universidade Federal do Amazonas e Administração de Política Cultural pelo Centro Nacional de Referência Cultural em convênio com a Universidade de Brasília e a Organização dos Estados Americanos e mestrado em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Foi secretário de Estado da Cultura do Amazonas de 1996 até 2017 e é ex Diretor da Escola Superior de Advocacia do Amazonas -ESA-OAB/AM. Tem experiência na área de Direito e Comunicação, com ênfase em Direito Ambiental, Cultural e Eleitoral, atuando principalmente no seguinte tema: bem cultural. Conselho Regional de Museologia 6ª Região - COREM nº 39/87.

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