Garantido celebra tradição e fé em momento de emoção e arte na segunda noite

Garantido celebra tradição e fé em momento de emoção e arte na segunda noite Fotos: Igor/Marcondes/Agnaldo Notícia do dia 24/06/2016

O boi Garantido apresentou na segunda noite do 51º Festival Folclórico de Parintins um espetáculo com forte apelo para a religiosidade com o subtema: Tradição e Fé. Uma procissão montada no centro da arena do bumbódromo abriu o espetáculo e trouxe centenas de romeiros, em uma demonstração de fé aos santos e santas padroeiros do boi da Baixa de São José. No centro da alegoria, estavam simbolizadas Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins e Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

 

 

A romaria apresentada foi o círio em louvor a Nossa Senhora de Nazaré, que ocorre no segundo domingo do mês de outubro em Belém, no Pará, e que atrai cerca de dois milhões de fieis anualmente. A cantora Márcia Siqueira cantou Romaria, de Renato Teixeira, e imortalizada na voz de Elis Regina no ponto alto da apresentação.

 

De acordo com um dos coordenadores de cênica do Garantido, Clodoaldo Oliveira, os atores do Garantido atuaram tendo como cenário um vilarejo representado na alegoria Figura Típica Regional, denominada Romeiros da Fé, um trabalho espetacular do artista Francinaldo Guerreiro e equipe. “Buscamos mostrar um ambiente com caraterísticas regionais, principalmente no desenvolvimento cênico e coreográfico”, disse Clodoaldo.

 

Segundo a fundamentação do subtema Tradição e Fé, com o coração na testa, símbolo maior do amor, o boi Garantido é o boi da tradição e da fé, porque nasceu de uma promessa a São João Batista, feita pelo seu criador, Mestre Lindolfo Monte Verde, na Baixa do São José. “Trata-se de uma vila humilde de pescadores e lugar de maior miscigenação entre índios e negros, onde a religiosidade é historicamente presente nas igrejas de São Benedito, São José Operário e nas manifestações de fé nas festas juninas em louvor a Santo Antônio, São João e São Pedro”, explicou o membro da Comissão de artes Fred Góes.

 

Para Fred Góes, a maior manifestação da tradição cristã da fé em Parintins acontece após o festival folclórico, no dia 16 de julho, na grande procissão da padroeira Nossa Senhora do Carmo, quando milhares de romeiros tomam as ruas da cidade para manifestar sua devoção e pagar suas promessas. “Nesta noite dedicada à tradição e à fé, o boi Garantido levou para a arena do bumbódromo a padroeira de Parintins Nossa Senhora do Carmo e a padroeira do Brasil Nossa Senhora Aparecida, numa composição artística que une a fé dos parintinenses em um grande momento de emoção e arte.

 

Lenda Amazônica

A alegoria confeccionada pelo artista Zilkson Reis e equipe contou a lenda dos Macacos vermelhos em um conjunto de alegorias que transcreveu a Lenda Amazônica. O enredo descreve que divididos em guaribas vermelhos e guaribas pretos, os macacos guaribas da Amazônia são extremamente recessivos, sendo, a disputa pelas fêmeas, uma das principais razões para os confrontos entre os machos dominantes dos bandos.                                                      

 

Zilkson Reis contou que a lenda dos macacos vermelhos surge nas matas da área cultural dos índios Munduruku, do rio Tapajós, onde os bandos de macacos guaribas povoaram o imaginário dos primeiros nordestinos que vieram para a exploração da borracha nos seringais da Amazônia. “São animais com caraterística únicas como o canto forte, rouco e assustador”, disse.

 

A narração da lenda dos macacos vermelhos conta o canto desses primatas teria perturbado a mente dos seringueiros que trabalhavam a extração da borracha, que desconheciam os mistérios da floresta amazônica. “Muitas estórias e lendas foram contadas envolvendo o som ensurdecedor dos guaribas, cujo macho dominante é o maior do bando e é chamado de capelão por associação aos párocos barbudos das missões religiosas da colonização”, revelou Reis.                                                      

 

Nos detalhes da lenda dos guaribas há a narração de que uma primata vermelha é levada pelos guaribas pretos, provocando o confronto pelo resgate da “primata vermelha”. No imaginário do caboclo da floresta, na escuridão da noite, o estrondo do canto dos guaribas faz estremecer o chão, projetando a imagem gigantesca de um capelão vermelho enfurecido, comandando o seu bando na grande batalha para resgatar a fêmea roubada pelos guaribas pretos, que são derrotados e expulsos. A Cunhã-Poranga Verena Ferreira representou a primata vermelha que foi resgatada por seu bando. O combate ocorreu na arena e na galera do Boi Garantido.

 

Ritual Kanamari

O boi Garantido fechou a apresentação da segunda noite com uma espetacular celebração tribal com Ritual Indígena que conta relata o combate do povo indígena Kanamari. Um trabalho artístico que leva a assinatura dos artistas Sorin Senna e Pingo de Souza. Conta no contexto narrativo de apresentação que o povo Kanamari habita a região do rio Juruá e parte do Vale do rio Javari, na região oeste do estado do Amazonas. “O xamanismo é uma característica ainda muito viva na cultura Kanamari e, ainda hoje, é executado pelos pajés da tribo”, disse o artista Sorim Senna.

 

Na narrativa dos Kanamari eles acreditam que existe um céu abaixo da crosta terrestre e que os espíritos dos índios e os animais ao morrer, vagam nesse céu até encarnarem em novos corpos. “Nesse contexto os Kohana Dyohko, espíritos dos animais, voltam a vagar na floresta, onde atiram flechas enfeitiçadas nos viventes, que perdem a consciência, entram em coma e espíritos maléficos levam suas almas em uma canoa, através do arco-íris, para o céu interior”, explicou Senna.

 

Diante da ameaça dos espíritos, conta Sorin Senna, para combater esses espíritos Kohana, os Kanamari realizam um ritual de cura, no qual o xamã da tribo transcende ao mundo sobrenatural tomando a bebida omandak, que lhe dá o poder de se transformar no espírito do jaguar e entrar no céu interior, levando muita bebida fermentada da mandioca, para alimentar e acalmar os espíritos do mal. Com muita cantoria e fumaça, o xamã representado pela pajé André Nascimento, retira as flechas enfeitiçadas dos corpos dos doentes da tribo e liberta os espíritos aprisionados.

 

Marcondes Maciel | Repórter Parintins

 

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