ENTREVISTA ESPECIAL: José Augusto Nenga destaca falta de planejamento nas políticas públicas de Barreirinha

Nenga lamenta o retrocesso administrativo do município nos últimos sete anos, que levou a um descompasso das ações públicas na infraestrutura, cultura, geração de emprego e renda, setor primário da agricultura e pecuária

ENTREVISTA ESPECIAL: José Augusto Nenga destaca falta de planejamento nas políticas públicas de Barreirinha Foto: Dilvulgação Notícia do dia 24/03/2016

Um dos pré-candidatos a prefeito de Barreirinha, José Augusto dos Santos Souza (PDT), em entrevista ao Repórter Parintins, na manhã de terça-feira, dia 22, faz uma avaliação da atual situação política da Princesinha do Ramos, município distante 330 quilômetros de Manaus.

 

Nenga, como também é conhecido, disse que a experiência de mudança por um novo governo não foi salutar para o povo barreirinhense e critica a gestão do prefeito Mecias Sateré (PSD) por ter não cumprido com suas propostas de governo.

 

José Augusto, que já foi vereador e vice-prefeito, comenta que a prefeitura não se planejou para enfrentar problemas como as enchentes, cada vez maiores, além da falta de qualidade na educação e nos serviços de saúde.

 

No setor de infraestrutura, Nenga comenta que o trabalho realizado pela gestão atual, e anterior, no Furo do Pucu, não teve o resultado esperado. Ele cita como exemplo, o serviço de escavação realizado na área que liga o Paraná do Ramos ao rio Andirá, onde a administração municipal não aproveitou a contento, os sedimentos para aterrar áreas baixas da cidade.

 

Ele ainda destacou o trabalho de saneamento básico idealizado pelo ex-prefeito Coreolano Lindoso, na década de 1980, quando fez o aterramento da área central de Barreirinha, um dos únicos pontos do município que suporta as enchentes.

 

Nenga diz presenciar com perplexidade o produto cultural, o Festival de Barreirinha, parar no tempo por falta de recursos e de planejamento, por isso, como prefeito iria estimular e propor o resgate da Festa do Caju, dando uma repaginada. A ideia seria adequar com a Feira da Fruticultura, onde todos os produtos produzidos pelo município seriam expostos para a população e visitantes.

 

Quanto ao seu destino político, Nenga diz que aguarda a definição do cenário político nacional que, evidentemente, reflete diretamente na política do Estado para tomar uma posição em relação a sua permanência ou não no Partido Democrático Trabalhista (PDT), partido ao qual está filiado. Entretanto, afirma o jovem político, que está conversando com as lideranças políticas estaduais para uma definição.

 

No cenário estadual, José Augusto goza de prestígio do deputado Josué Neto (PSD), presidente da Assembleia legislativa do Estado – Aleam, do grupo do senador Omar Aziz e governador José Melo (Pros).              

 

JRP - Qual a leitura que você tem da política em Barreirinha?

Nenga – O que a gente vê é um momento de transformações, de profunda avaliação da sociedade, da experiência que fez nos últimos oito anos, numa eleição que é muito disputada, a população optou por um grupo político novo, diferente daquilo que vinha sendo trabalhado em Barreirinha. Hoje é um momento de avaliar se essa mudança deu certo, se não deu e o que precisa ser feito. A nossa avaliação é que não deu certo. Nós tivemos um governo nos últimos anos sem planejamento, sem organização, sem o enfrentamento direto de problema que são de longas datas, como a problemática das enchentes. O município deixou de se preparar para as enchentes, a qualidade da Educação e a prestação dos serviços de saúde. Tudo isso foi se deteriorando e, hoje, agente precisa novamente, a partir dessa avaliação propor uma mudança pra Barreirinha, uma mudança de rumos, uma administração que se preocupe com esses problemas e procure enfrentar de frente. É essa a avaliação que a gente faz, das necessidades do que deve ser levado em conta nessa eleição de 2016.

 

JRP - Para o Nenga chegar a Prefeitura de Barreirinha qual a linha de trabalho?

Nenga - A linha de trabalho é apresentar a população os problemas que nos aflige todo esse tempo e as soluções que são possíveis serem aplicadas, nada mirabolante, nada de coisa do outro mundo, mas coisas muito reais como falo, o problema da enchente. Um problema que foi combatido na década de 1980 pelo prefeito Coreolano Lindoso [já falecido] onde naquela época ele levantou o greide das ruas do centro de Barreirinha acima do nível da enchente de 1953 e, até hoje, a política implantada pelo Coreolano funciona, que é o único ponto da cidade não vai no fundo nos dias atuais. É a parte onde o Coreolano elevou o greide da cidade. Isso foi feito no carrinho de mão e na enxada. Não havia máquinas pra fazer isso, imagina hoje que você tem a modernidade, com máquinas, com tratores, com caminhões pra fazer esse trabalho.

 

JRP – O município de Barreirinha tem uma grande obra, que ao que parece não teve o resultado previsto, a escavação do Furo do Pucu. Como o senhor avalia este trabalho?

Nenga - Iniciou-se uma obra em Barreirinha que foi a escavação do Furo do Pucu que liga o Paraná do Ramos ao rio Andirá, e a terra que estava sendo tirada no leito desse furo estava sendo despejado no meio do rio. Depois passaram a jogar pra cima do aningal e depois a obra foi paralisada. Alguns particulares continuaram cavando, não mais com draga, mas com tratores e caminhões para aterrar terrenos particulares na cidade. Ou seja, o recurso que foi implantado no Furo do Pucu, essa escavação poderia ter sido feita com tratores e caminhões retirando a terra do furu e aplicando na elevação do nível das ruas da cidade, você faria dois serviços públicos com o mesmo recurso, isso não foi feito. Então, é possível... Se já foi feito no passado, com carrinho de mão e na pá, porque que não pode ser feito com maquinários. É uma questão de querer fazer. Nós queremos resolver essa questão.

 

JRP – Foi no mandato do prefeito anterior [Gilvan Seixas] que essa obra que o senhor fala teve início?

Nenga – Foi nos dois mandatos, aconteceu a mesma coisa. No mandato do prefeito Gilvan foi quando iniciou a escavação do Furo do Pucu, e não se deu o destino correto e útil pra comunidade, do rejeito que foi retirado do Furo do Pucu, e na administração seguinte continuou, mas o fato é que as grandes enchentes vieram a partir de 2009. Estamos há sete anos e nada foi feito nesse sentido. Se a cheia, hoje, chegar grande como se anuncia para este ano, novamente o munícipio de Barreirinha não está preparado para enfrentar a enchente, porque nenhuma política pública eficaz sustentável foi aplicada.

 

JRP – Qual o maior gargalo que o município enfrenta?

Nenga – Hoje, a nível de infraestrutura, é exatamente a questão da enchente. O outro gargalo é na questão da economia. O município de Barreirinha hoje que tem a maior parte da população residente da área rural, o município não tem projeto para a produção rural; setor primário em Barreirinha é praticamente inexistente. Nós vivemos fazendo agricultura e pecuária de subsistência e piorou com as grandes enchentes, tanto para a pecuária quanto para a agricultura. Perdemos muito com essas enchentes e novamente nenhuma política pública foi implantada para reverter esse quadro.

 

JRP – O prefeito atual tem investido bastante na área do esporte, isso representa qualidade de vida? Qual seu posicionamento em relação a isso?

Nenga – Eu acho que poderia ter feito mais, muito mais nessa área, principalmente nas questões voltadas para o destaque maior de Barreirinha nas competições fora do município. O que foi feito muito foi o ‘pão e circo’, a velha política de fazer festa pra aparecer, pra fazer política partidária, política eleitoral mesmo, mas não houve nenhuma preocupação realmente de implementar políticas esportivas que oferecessem à população a oportunidade de o esporte ser um meio de vida, que o esporte fosse salutar com relação à saúde: que você promover o esporte com cachaça, o objetivo da saúde foi embora! Então, termina-se um jogo e se tem lá rodadas de cerveja e cachaça pros atletas tomarem, daí então isso não é esporte, isso não é promover saúde muito menos educação.

 

JRP – O que falta, então?

Nenga - Nós temos em Barreirinha experiências de atletas, que por conta própria, com sacrifício da família, moram hoje na Vila Olímpica, em Manaus, e participam de competições fora do Brasil. Tem atletas que se destacaram em jogos em Curitiba, em Fortaleza que são de Barreirinha, que vivem na Vila Olímpica e que às vezes não têm um tênis pra treinar, não tem nenhum apoio da administração de Barreirinha.

 

JRP – O município de Barreirinha tem um produto cultural bastante conhecido que é o festival folclórico, com os dois expoentes Touro Branco e Touro Preto. No entanto, enfrenta problemas em termos de recursos financeiros, além da situação da enchente que tem dificultado a realização da festa. O que você faria para manter o calendário inalterado sem prejudicar a econômica local?

Nenga - Nós temos uma riqueza cultural em Barreirinha enorme que pode acarretar na entrada de renda para a população, através do turismo. Nós temos um município com belas paisagens naturais. Temos um município com uma região indígena muita linda. Temos uma área federal quilombola, dentro do município de Barreirinha, que culturalmente isso é muito importante. Nós temos as festas tradicionais, as festas religiosas. Nós temos lá as festas dos bumbás que é o Festival Folclórico de Barreirinha, que vem se descaracterizando ao longo do tempo por falta de planejamento. A questão é que não há nenhum investimento em tempo hábil no festival.

 

JRP – Como o festival é organizado?

Nenga - O Festival de Barreirinha acontece porque alguém resolve pegar um tambor e bater, e as pessoas vão para o curral participar da brincadeira e o município é levado a fazer a festa. Mas, se ninguém tomar a iniciativa o festival não tem, não há um investimento novamente. Então, infelizmente o festival que cresceu, a festa que ficou bonita, a festa onde foram feitos vários trabalhos.

 

JRP – Se houvesse um marketing, uma mídia mais forte para divulgar Barreirinha, o senhor acredita que o visitante seria atraído pela festa dos grupos folclóricos?

Nenga - É preciso que se divulgue o festival, é preciso que se mantenha a data porque quem vai para uma festa dessa se programa, se planeja. Então, se o festival não tem uma data definitiva fica difícil alguém se programar. Imagina se o Festival de Parintins, a cada ano, fosse num mês diferente. Ao mesmo tempo tivemos o crescimento do Festival das Tribos de Juruti que acontece na mesma data da festa de Barreirinha, o que criou uma concorrência pra agente, porque o maior público do Festival de Barreirinha é o público de Parintins que se identifica com as cores dos bumbás. Barreirinha é mais próximo, é mais barato ir, há uma relação maior com a população, não tem o risco de temporais da beira do rio, o rio é mais tranquilo, é mais seguro. Não há uma divulgação em Parintins do que está sendo feito em Barreirinha com relação ao festival, o que faz com que esse público vá em verdadeiras caravanas de Parintins para o Festival de Juruti. E não acontece o mesmo com o Festival da Barreirinha por falta de organização e planejamento.

 

JRP - O que você faria para atrair o parintinense para o Festival de Barreirinha e assim evitar que ele se desloque a Juruti, no Pará-PA?

Nenga – Definir o calendário, definir a data. Iniciar um processo de fortalecimento com os bumbás, transformando os dois currais dos bois em escolas de cultura, em escolas de artes pra comunidade, preparando assim as crianças, preparando os artistas, preparando o próprio espaço dos bumbás pela administração, que usaria esse espaço como escola e no momento correto dos ensaios seria repassado para aos bumbás. A própria liberação dos recursos deveria ser parcelada de forma antecipada pros bumbás irem se organizando e investir na divulgação, na gravação do CD dos bumbás com antecedência para que se fosse divulgado nas rádios de Parintins, nas rádios da capital, atraindo assim um maior público e, claro, buscar as parcerias devidas com o Governo do Estado, com o Governo Federal e com a iniciativa privada para que esse festival possa ser consolidado como sempre foi um sonho nosso.

 

JRP – A sua relação com os bumbás, ou melhor, com os touros Branco e Preto é muito grande?

Nenga - Eu tenho uma identidade pessoal com esse festival. Eu fui apresentador do Touro Branco por mais de 15 anos, eu fui apresentador do Touro Preto por dois anos, trabalhei nos dois bois. Temos um grande carinho por essa festa. Acreditamos no potencial cultural e no talento do barreirinhense e temos o maior desejo de ver essa festa prosperar. Além disso, do festival, nós temos que voltar, a ideia, de refazer a festa do Caju em Barreirinha, um grande evento não apenas celebrando o caju, mas uma festa que englobe tudo, isto é uma ideia do professor João Ribeiro Costa [coordenador do Ensino Médio Por mediação Tecnológica em Parintins] onde poderíamos fazer a festa do Caju com a feira da fruticultura, fazendo uma celebração em torno de toda a produção rural do município de Barreirinha. Barreirinha não produz apenas caju. Barreirinha tem a possibilidade de produzir muitas coisas a mais e vem produzindo, apesar de ser em baixa escala e em forma de subsistência, mas há o potencial, a possibilidade de ser um grande produtor de alimentos, inclusive atendendo as necessidades do município vizinho que é Parintins, que é um município mais urbano que o nosso. E nós poderíamos fazer um grande evento também em Barreirinha: a festa do Caju com a feira da fruticultura, valorizando o homem do campo e trazendo atrações como aconteciam antes, tanto em nível regional, nacional e nacional.

 

Neudson Corrêa l Repórter Parintins

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